Revolução na Faculdade de Medicina

Numa altura em que o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, está  envolvido numa polémica sobre eventuais ligações à maçonaria ao Opus Dei e a partidos políticos – apontadas num estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos -, a escolha do próximo director da Faculdade de Medicina promete reacender o debate interno sobre os alegados…

Pela primeira vez nos últimos 15 anos, pelo menos, há dois candidatos às eleições para a direcção da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, marcadas para o dia 30 deste mês. "A minha candidatura já é uma revolução", diz ao SOL a investigadora Maria do Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular, sublinhando que nos últimos anos o cargo foi sempre ocupado em mandatos sucessivos pela mesma pessoas, sem qualquer alternativa. 

Desde há nove anos que o lugar de director é ocupado, em mandatos de três anos, por José Fernandes e Fernandes, director de serviço do Hospital de Santa Maria e que foi iniciado na maçonaria, na poderosa Loja Universalis (a mesma que recrutou o ex-ministro Miguel Relvas).

Antes de Fernandes e Fernandes, a direcção esteve, entre 1994 e 2005, nas mãos do médico João Martins e Silva.

'É preciso renovar'

"É preciso renovar a universidade. Mudar a atitude". acrescenta aquela cientista, que vai oficializar a sua candidatura na próxima semana, entregando os documentos necessários. No dia 16, Maria do Carmo Fonseca irá apresentar publicamente a sua estratégia e revelar o testemunho de 100 pessoas que a apoiam. "Fui empurrada por um grupo de pessoas, incluindo muitos médicos, que acham que posso ajudar a alterar a situação em que caiu a faculdade, que está fechada sobre tradições" – explica, acrescentando que é preciso reconquistar o lugar de topo da faculdade, frequentada anualmente por 350 a 400 alunos. "Os alunos sentem que a faculdade  foi ultrapassada por outras do país, apesar de ser a que forma mais médicos". 

O seu adversário é Fausto Pinto, director do serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Maria e professor catedrático. Este médico é próximo de José Fernandes e Fernandes e é visto como o candidato da continuidade. Os dois médicos, aliás, além de serem colegas no Hospital de Santa Maria, integram o corpo clínico do Instituto Cardiovascular de Lisboa.

A escolha do próximo director da faculdade será feita por voto secreto dos elementos que pertencem ao conselho da escola. A eleição, segundo o regulamento interno, requer uma maioria absoluta dos votos dos membros daquele conselho. 

"Neste momento, tudo indica que o professor Fausto Pinto está em vantagem", diz fonte médica do Hospital de Santa Maria, admitindo que nos próximos dias o debate sobre a necessidade de mudança se intensifique. Até porque uma das questões em destaque nas estratégias de cada uma das candidaturas será a relação entre o hospital e a faculdade.

catarina.guerreiro@sol.pt