Dragão inverte a lógica

Falcao chegou com 23 anos por cinco milhões e meio de euros e saiu duas épocas depois por 40. James foi aposta aos 19 anos e proporcionou uma mais-valia de 31 milhões ao fim de três temporadas. Jackson custou 9 milhões com 25 anos e partiu agora a troco de 35.

Ao longo da última década, o FC Porto focou-se no futebol sul-americano para comprar barato e vender caro, numa estratégia de sucesso que lhe permitiu equilibrar orçamentos – e que começou também a ser aplicada pelo rival Benfica. Mas com a chegada de Julen Lopetegui, na época passada, a política de contratações inverteu-se e o novo paradigma ganha ainda mais força para a segunda campanha sob o comando técnico do espanhol: os 20 milhões de euros investidos em Imbula, a oficialização iminente de Maxi Pereira, a investida surpresa para garantir Iker Casillas ou o interesse em Fernando Llorente reflectem esta nova forma de olhar o mercado.

Em vez de jovens promessas das Américas, capazes de gerar lucro a médio-prazo, o FC Porto procura consagrados na Europa de modo a cortar caminho para o êxito. De preferência por empréstimo ou a 'custo zero'.

A esta pressa de ganhar não será alheio o facto de o clube ter perdido os dois últimos campeonatos para o Benfica. Em 33 anos de reinado de Pinto da Costa, só por uma vez o FC Porto ficou três épocas consecutivas sem o título de campeão nacional (Sporting-Boavista-Sporting, de 2000 a 2002), um jejum que os 'dragões' não querem repetir. Nem que para isso tenham de esticar ainda mais a folha salarial, há já vários anos a mais pesada dos três 'grandes'.

O líder portista sempre revelou apetência para reinventar as abordagens ao mercado. Em 1984, após dois anos de domínio do Benfica, Futre mudou-se para a Invicta alegando falta de condições psicológicas para continuar no Sporting. Uma década depois, o FC Porto reagiu ao título dos 'encarnados' com o desvio dos russos Kulkov e Iuran da Luz para as Antas. E, em 2002, prevaleceu o efeito José Mourinho, com Maniche a chegar do rival e a transformar-se numa peça influente.

Desta vez, ao golpe habitual no Benfica, através de Maxi, junta-se a necessidade de driblar as restrições da FIFA à participação dos fundos de investimento nas contratações de jogadores. Os clubes estão agora proibidos de recorrer a terceiros para partilharem os direitos sobre os futebolistas – e assim amenizarem os investimentos -, mas o FC Porto encontrou forma de pagar 20 milhões de euros ao Marselha pela totalidade do passe de Imbula. Um recorde na história dos 'dragões'.

O pai do médio francês, no entanto, em declarações ao Journal du Dimanche, afirmou que “a Doyen Sports meteu algum dinheiro para que a transferência se fizesse”, embora sublinhasse também que a empresa não tem qualquer direito sobre o seu filho, no cumprimento da lei. “O clube é dono do seu destino”, garantiu Willy Ndangi.

Ao SOL, fonte oficial da Doyen sustentou que o fundo de investimento “não financiou a transferência, apenas actuou enquanto intermediário”. Já o FC Porto não respondeu ao pedido de esclarecimento.

Com Maxi, Casillas e Llorente, três trintões com provas dadas, a estratégia passa por pagar salários elevados, no caso do guarda-redes espanhol na ordem dos cinco milhões de euros anuais. Claro que o clube não terá retorno em futuras transferências com estes jogadores, mas essa não é a prioridade para 2015/16.

O objectivo supremo é voltar a ganhar o mais depressa possível. As finanças ficam para outras núpcias. Porque Pinto da Costa e os seus pares sabem que, quando a equipa ganha, torna-se mais fácil lucrar com as vendas. Resta saber, face à nova política, que pérolas sobram no plantel para gerar receitas extraordinárias e equilibrar as contas.

rui.antunes@sol.pt