‘Olha a fruta na praia!’

A adesão a opções mais saudáveis nas praias algarvias tem vindo a aumentar junto dos banhistas. E cada vez aparecem mais rivais à bola de Berlim.

Graça Ribeiro desconhecia a possibilidade de comprar fruta fresca na praia. Reformada, é frequentadora habitual da praia da ilha de Cabanas, perto de Tavira, para onde vai com o marido, Jorge. São 9h30 e a praia já está repleta de pessoas que, por entre sombrinhas e castelos de areia, aproveitam para se refrescarem na maré cheia ou para dar longos passeios à beira-mar.

À medida que a manhã avança, o calor é avassalador. Até que ouvem, ao longe: “Olha a fruta fresca!”. Graça estranha. “Fruta na praia? Não será bola de Berlim?”. Não, não é. O vendedor de fruta traz uma caixa branca com o logótipo da empresa ‘Fruta Mar’, onde traz pequenas caixas com fruta pronta a consumir.

Paulo, o vendedor, mostra as várias as opções. Entre frutas da época e frutas tropicais, o caso do ananás e o kiwi, a cuvete escolhida é a de melancia, meloa e uva. Graça delicia-se com a fruta doce enquanto Paulo diz a Jorge que as pessoas gostam desta nova ideia, apesar de serem “mais os turistas que compram a fruta”. “Muitos portugueses têm ainda a ideia de que na praia a bola de Berlim é que sabe bem”, continua.

A venda de fruta na praia é também uma novidade para Michelle Pereira, natural de São Paulo. Também está na praia de Cabanas e decide comprar duas caixinhas de fruta para ela e para o filho de cinco anos. “Adoro essa ideia. É muito importante, principalmente para as crianças, haver estas escolhas saudáveis em vez de gorduras e açúcar”.

Aliás, a ingestão de frutas para prevenir doenças cardiovasculares e a obesidade infantil é aconselhada pela Organização Mundial da Saúde, que adianta que Portugal um dos países da União Europeia mais afetado por este tipo de doenças.

Michelle confessa, no entanto, que o desejo de comer uma bola de Berlim fala mais alto e que tem uma na sua mala guardada para mais tarde, uma surpresa para o filho.

Hugo Ribeiro é o fundador da ‘Fruta Mar’. Em 2011 estava emigrado em Londres quando teve a ideia. “Depois de ver filme onde dois turistas recebem uma pequena embalagem de cenouras em palitos de um empregado num resort turístico, pensei logo, porque não criar este conceito em Portugal? Porque não criar uma alternativa saudável às bolas de Berlim e aos outros doces que se vendem nas praias?”

E assim foi. No início, a empresa chamava-se ‘Fresh4you’ e destinava-se à venda de legumes, mas Hugo chegou à conclusão de que a fruta da época tinha mais valor. Assim, ‘Fruta Mar’ inicia operações no terreno em 2014, nomeadamente nas praias de Monte Gordo, Cabeço, Altura e Manta Rota. “Atualmente também temos vendedores em Cabanas, na Ilha de Tavira, Fuzeta, Armona, Culatra, Farol e até em praias espanholas de Ayamonte”. O projeto é sazonal e a empresa está também ligada a cafés, eventos, lojas de pronto-a-comer e hotéis.

Mas não é a única. O comandante Paulo Isabel, em declarações à Lusa, referiu que só este ano o número de licenças de venda ambulante já aumentou 10%, tendo sido autorizadas trezentas nos areais de todo o distrito de Faro.

Assim, também nas praias do barlavento algarvio, como é o caso de Quarteira e Albufeira, há novas iniciativas, como a 'Laranja Baguinho' que fornece sumos de fruta aos banhistas, promovendo a típica laranja algarvia.

Mário Ferreira é um dos consumidores deste tipo de sumos naturais. Sempre que pode, vai à praia de Loulé e assegura que o sucesso é garantido. “Aqui não se duvida da frescura. As pessoas que vêm cá à praia gostam muito desta alternativa. Tenho pena que não se tenha feito mais cedo”. E conta que já aconselhou esta nova tendência a amigos e familiares.

É mais um consumidor que, nas praias algarvias, opta por opções mais saudáveis e frescas. Até porque quando se come fruta “contribui-se para a sua saúde”, salienta Mário, que, de sumo na mão, aproveita a última luz de uma tarde quente de Agosto.