O power point

O Conselho Europeu de fim de Janeiro incluiu na sua agenda a palavra maldita dos últimos dois anos: ‘crescimento’. Terão os 27 chefes de Estado e de governo da União mudado de ideias?

convenceram-se que, afinal, temos um problema de crescimento? entraram no campeonato do relançamento económico? sabem, ao menos, se ele é compaginável com a austeridade? ou, prosaicamente, perceberam, como na anedota que se contava a propósito da união soviética, que o que é preciso é agitar a carruagem para todos fingirmos que, afinal, ela avança?

esta segunda hipótese é, infelizmente, 27 vezes mais plausível do que a primeira. há muito que ninguém muda de ideias no conselho, pela simples razão de que, em tal sede, é proibido ter ideias. quem as tenha guarda-as para si, quem não as tem, faz suas as de berlim. esta é a lei, este é o diktat.

neste conselho, durão barroso teve um momento de glória: pôde apresentar aos líderes europeus, em première mundial, um colorido power point. tema da bonecada: o tal do ‘crescimento’. se o leitor se imaginar na sala castanha do conselho assistindo à aula do presidente da comissão, admito que até pudesse achar a novidade interessante. mas se o leitor aí estivesse na condição de presidente da república ou de primeiro-ministro, manteria a mesma opinião? ou julgar-se-ia de retorno à escola? esta não é uma pergunta retórica. com excepção da primeira imagem, o power point de durão barroso tem um nível de complexidade adequado a uma turma de estudantes do secundário. ele diz mais sobre o nível de exigência intelectual e de informação europeia dos 27 do que mil discursos de cada um deles sobre o sonho europeu. deste ponto de vista, ainda acharia piada à modernaça aula magistral de barroso?

um dos mapas do power point diz-nos que o desemprego juvenil anda pelas horas da morte. dentro de meses, países como a grécia e a espanha, a itália e portugal apresentarão índices de emprego nesta faixa etária comparáveis aos existentes na faixa de gaza. o mesmo power point mostra ainda que as politicas de que a ue dispõe para contrariar esta realidade são um programa de estágios, o erasmus, outro de formação, o leonardo, e ainda um de informação, o eures. é como ir à caça de elefantes com fisgas.

para compensar, a comissão europeia propõe uma mão cheia de medidas… desde que elas não envolvam um euro de dinheiro fresco. é.

o power point também nos diz que os custos do trabalho são a quinta preocupação dos empresários europeus e, apesar disso, os governos fazem da sua compressão a reforma das reformas. pois. dentro da carruagem anda tudo aos pulos ver se ela abana. abanar, abana. só não anda. porque esta europa não é dirigida a dois, mas pelo silêncio a vinte e cinco. este, sim, é a força do directório.