Catalunha: para a imprensa espanhola todos ganharam e todos perderam

As manchetes dos diários espanhóis desta segunda-feira dão todas natural destaque aos resultados das eleições autonómicas da Catalunha, que ontem ditaram a reeleição dos independentistas liderados por Artur Mas. Mas enquanto os jornais nacionais sublinham que a maioria dos votos ficou do lado dos partidos que defendem a integridade de Espanha, a imprensa regional catalã…

Catalunha: para a imprensa espanhola todos ganharam e todos perderam

Os resultados permitem várias leituras e cada jornal faz a sua, dependendo da sua própria ideologia, posição geográfica e opinião da maioria dos seus leitores. Grande parte da imprensa catalã concorda com Artur Mas, cuja coligação Juntos Pelo Sim prometeu avançar para um processo de independência em caso de vitória, ao defender que a sua vitória foi inequívoca, como provam os 62 deputados eleitos contra os 25 da segunda força mais votada (Ciudadanos). Face aos mesmos números, a imprensa nacional prefere recordar que a maioria absoluta só se obtém aos 68 deputados e portanto faltará legitimidade a Mas para avançar com o prometido.

Assim, o El País escreve em manchete que “os independentistas ganharam as eleições mas não o seu plebiscito” enquanto o catalão La Vanguardia escolheu um: “O Sim impõe-se”. O também independentista Avui (Hoje) diz mesmo “adeus a Espanha” referindo-se ao mesmo tema que leva o ABC a anunciar que “os catalães não se querem ir”.

 

 

 

 

Nas contas também faz diferença contar os votos e deputados eleitos pela segunda lista independentista, da Candidatura de Unidade Popular (CUP). A sua dezena de deputados permite aos independentistas somar 72 eleitos entre os 135 representantes do Parlamento Catalão, maioria suficiente para aprovar os passos do processo de secessão e para reclamar legitimidade democrática por via das urnas.

Mas mesmo com este fator, é possível fazer duas leituras, como mostram as manchetes dos jornais espanhóis. Por um lado há o peso dado às graves divergências entre Artur Mas e os dirigentes da CUP, que deixaram bem claro antes da votação que só estarão disponíveis para aprovar um governo do Juntos Pelo Sim caso o actual líder da Generalitat se afaste do processo e dê a liderança da região e do partido a outra figura. Se na Catalunha tudo isso parece ultrapassável, no resto de Espanha aposta-se na impossibilidade de ver as duas listas independentistas unirem esforços.

 

 

 

Depois entra a questão que pode vir a ser repetida em Portugal na próxima semana: contam-se os votos ou o número de deputados eleitos? Porque se a maioria independentista é inequívoca em termos de deputados, em número de votos a história é diferente, pois as duas listas separatistas somaram 1.952.482 votos contra os 2.112.437 de votos alcançados por todas as outras forças políticas, que não aderem à causa da Catalunha independente.

Será em torno destes números e destas leituras que se desenvolverá o debate político espanhol nas próximas semanas, dentro e fora da Catalunha. Até porque este resultado e as consequências que dele podem resultar terão certamente um papel importante na campanha para as eleições legislativas de Dezembro. 

nuno.e.lima@sol.pt