Um voluntariado que é quase uma profissão

Beatriz Esteves não esquece o que as voluntárias do Instituto Português de Oncologia (IPO) fizeram pelo seu pai, quando este adoeceu e esteve internado no hospital. «Passei lá muito tempo com ele e fiquei encantada com a forma como lidavam com os doentes», conta ao SOL, recuando a mais de duas décadas. Por isso, quando…

Nessa altura dedicava três horas da sua semana aos doentes. A visitá-los, a conversar com eles, a dar-lhes as refeições ou encaminhá-los para os tratamentos. Era à segunda-feira ao final do dia, recorda. Para isso tinha de organizar bem a sua vida profissional e familiar, pois ainda trabalhava como secretária a tempo inteiro e tinha duas filhas adolescentes. «Ao domingo fazia o jantar para o dia a seguir, porque sabia que ia chegar tarde a casa», recorda, explicando que esta foi a sua primeira experiência de voluntariado. Desses primeiros tempos, lembra também a primeira doente que lhe coube assistir: uma senhora que se tentou suicidar. «Recusou-se a falar com os médicos. E a mim acabou por contar o que tinha acontecido. Foi muito marcante», afirma, sublinhando que «é por isso que os voluntários fazem tanta falta nos hospitais».

Mas o que começou por ser uma experiência semanal, que cumpria escrupulosamente, sem nunca faltar, foi-se alargando quando Beatriz se reformou, aos 62 anos. «Aí começou a ser preciso ir mais vezes e passava mais tempo com os doentes», afirma a voluntária, sublinhando que ainda hoje sente que o mais importante da sua missão passa pela «conversa e o toque, o dar a mão». Pois muitas vezes, acrescenta, «muito pouco há a dizer», por exemplo, no caso dos doentes terminais. Como a sua disponibilidade de tempo era muito maior, começou a ir mais vezes ao Hospital de Cascais, que entretanto mudou para as suas novas instalações.

Hoje, Beatriz Esteves assume a vice-presidência da Liga dos Amigos do Hospital de Cascais, entidade que congrega os mais de 100 voluntários desta unidade hospitalar, e o seu trabalho passa mais pela secretária e por reuniões do que pelo contacto direto com os doentes. «Mas é quase uma profissão», assegura. Com a diferença de que nesta missão não há remuneração. O horário é diário e começa às 10 para nunca terminar antes das 16h30. E muitas vezes ainda leva trabalho para casa, como telefonemas para os voluntários.

rita.carvalho@sol.pt