Round 2 para Jesus

Não se falam. A rivalidade entre Benfica e Sporting deixou Rui Vitória e Jorge Jesus de costas voltadas. A tensão entre os dois treinadores nasceu nos dias que antecederam a Supertaça, no arranque da época, e ficou à vista no dérbi de domingo passado, ao longo do qual não trocaram uma única palavra e nem…

Round 2 para Jesus

Ao mudar-se da Luz para Alvalade, Jesus teve plena consciência de que iria ser o centro das atenções quando os dois clubes se defrontassem e desde cedo quis puxar Rui Vitória para o interior do furacão. Por várias vezes insistiu que nada tinha mudado no Benfica e chegou a enaltecer a inteligência do seu sucessor por não ter alterado o que estava bem feito. Um autoelogio misturado com uma bicada ao adversário.

Com o clima bélico que se instalou como reação à saída de Jorge Jesus para o Sporting – recusa em pagar o salário de junho, ataques pessoais e um processo milionário em tribunal -, Rui Vitória passou a ser visto ainda mais como um inimigo desportivo a abater, sem dó nem piedade.

No entanto, no seu círculo mais próximo, o SOL sabe que Jesus faz questão de separar as águas entre o plano desportivo e pessoal. Ao contrário de outros colegas de profissão, por quem não nutre qualquer simpatia, Rui Vitória é alguém que o técnico dos leões considera, em virtude da sua correção e educação. Apesar das provocações que lhe tem lançado, nada o move contra o seu sucessor na Luz, garante aos amigos.

A 26 de Maio de 2013, antes da final da Taça de Portugal que o Benfica perdeu para o Vitória de Guimarães, Jesus falava assim do seu homólogo: “O percurso do Rui tem sido de afirmação e de valorização. O trabalho que tem feito nas suas equipas demonstra bem a sua capacidade”. E Vitória retribuía, ao referir-se a Jesus como “um treinador de referência que tem deixado sempre uma marca nos clubes por onde tem passado”.

O novo técnico do Benfica tentou a todo o custo manter-se à margem do conflito entre o clube e o seu antigo treinador, mas ao segundo dérbi, e após duas derrotas, é impossível escapar às evidências: o Sporting foi superior nos dois jogos e, para já, Jesus leva clara vantagem no confronto direto. Nas hostes benquistas começam a surgir as primeiras vozes contra o excesso de simpatia de Rui Vitória.

“Há aqui uma guerra sem quartel entre Jorge Jesus e a estrutura do Benfica. Jesus ganhou a primeira batalha, esmagou na segunda e vem já aí a terceira”, atirou o vice-presidente encarnado Rui Gomes da Silva, referindo-se ao próximo dérbi para a Taça de Portugal, durante a sua participação desta semana no programa O Dia Seguinte, na SIC Notícias.

O dirigente acusou a estrutura do Benfica de se ter aburguesado, por estar a fugir a uma atitude de confronto com o Sporting quando chovem ataques do rival de Alvalade. E deu como exemplo a “anticonflitualidade” que norteia “os aconselhamentos para as conferências de imprensa” de Rui Vitória. “Um treinador novo que chega ao Benfica depois de uma época como a de Jesus tem de ser alguém que se afirme, não diria pela conflitualidade, mas pela frontalidade”, sustentou Gomes da Silva, numa crítica à estratégia de comunicação do clube e do treinador.

Em entrevista à revista GQ, a publicar na próxima semana, Jesus admite que gosta do confronto e não parece interessado em baixar a guarda com o Benfica. “Rui Costa é o único elemento daquela estrutura toda que percebe de futebol. É o elemento que dá àquelas pessoas que gravitam todas à volta da estrutura do futebol, e que não entendem nada daquilo, alguma sustentabilidade ao nível do conhecimento do jogo e do jogador”, dispara o treinador à publicação que o considerou um dos homens do ano e para a qual participou numa sessão fotográfica invulgar.

Já Rui Vitória, depois de ter dito antes do dérbi que uma equipa, o Benfica, iria defrontar 11 jogadores do Sporting – uma ideia que diz ter sido mal interpretada -, foi poupado a críticas mais duras de Jesus, que no entanto lembrou que o poderia “pôr deste tamanhinho” perante o 3-0 final.

rui.antunes@sol.pt