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Benetton celebra 50 anos. Chamar as cores pelos nomes

Branco, preto, amarelo, vermelho. Falar da Benetton é falar de cor, de campanhas publicitárias que chamam a atenção para causas e não para peças de roupa, de estampar em posters de grandes dimensões o que ninguém quer ver, de apontar o dedo ao que está mal. A partir de meados dos anos 80, pela objetiva do fotógrafo Oliviero Toscani passaram imagens de famílias multiculturais, padres e freiras - e líderes políticos de quadrantes antagónicos - aos beijos, preservativos coloridos, corações humanos, manchas de sangue, suor e lágrimas, mutilados e doentes. Todas sob a insígnia ‘United Colors of Benetton’. E todas em exposição na sede da marca em Treviso. Não só as imagens mas as dezenas de carros da Fórmula 1, conduzidos porNelson Piquet ou (na altura o jovem) Michael Schumacher) sem falar no Arquivo que guarda uma peça de cada colecção da Benetton desde 1965. Mesmo ao lado,  a marca situou  a sua Fábrica, um espaço de 11 mil metros quadrados de criatividade desenhados pelo arquiteto Tadao Ando que acolhe todos os anos 50 bolseiros com menos de 25 anos e por onde já passaram os portugueses Joana Astolfi, os Pedrita, Catarina Carreiras, e onde desde há quatro anos trabalha a designer Mariana Fernandes (29 anos).


E agora, no ano em que assinala meio século,  a marca italiana quer fazer algo diferente: acompanhar de perto as comunidades mais desfavorecidas. Para tal anunciou um fundo de  dois milhões de euros para ajudar as mulheres que trabalham na cadeia de produção têxtil - a começar pela Ásia. O programa tem a duração de cinco anos e prevê o acesso à educação, saúde, a empregos decentes - devidamente remunerados  e em locais de trabalho dignos -, além de segurança  contra qualquer tipo de violência. "Dos anos 80 a 2000 a marca focou-se no hiper-realismo dos problemas sociais. Por isso, não é de estranhar que as fotografias das nossas campanhas tenham sido feitas por repórteres e as  histórias contadas  por jornalistas. Hoje estamos numa fase diferente.  Esta é a fase  do engajamento social no sentido da mudança de comportamentos. Já não se trata de provocar por provocar mas de levar as pessoas a envolverem-se", defende Gianluca Pastora, diretor global de Comunicação do grupo.

E para ajudar a esta mobilização social, a Benetton fez o que melhor sabe.  Traduziu em números uma realidade que (mais uma vez) ninguém quer ver. No caso, as  250 milhões de jovens obrigadas a casar antes dos 15 anos; metade das quais trabalha sem contrato ou não é remunerada; além dos 31 milhões  que deveriam frequentar a escola primária e estão à margem do sistema de ensino; e cada mulher que morre por complicações da gravidez ou parto a cada dois minutos. Mas a lista negra para a condição feminina continua. Para reverter os números, a marca italiana reforça a importância das parcerias com organizações locais e internacionais -  como a ONU que tem nos seus ‘Objectivos Para o Milénio’ «promover a igualdade de género através da emancipação das jovens e das mulheres», uma meta que pretende ver atingida em 2030. 

E ao mesmo tempo que a Benetton fala da atual condição das mulheres no mundo, vai ao seu arquivo e recupera peças e histórias que marcaram cada um das suas cinco décadas de história, desde que Luciano Benetton comprou uma máquina de costura (depois de ter vendido a bicicleta do irmão) e passou a fazer as suas primeiras camisolas em Treviso - mais tarde os irmãos Gilberto, Carlo e Giuliana acabaram por se juntar ao negócio. A Collection of Us recorda estas cinco gerações de malhas e, porque o foco é a condição feminina, a história chega através de cinco gerações de mulheres que relembram que a luta por melhores condições de vida não é nova nem está ultrapassada. Felizmente, também não está esquecida. 

patricia.cintra@sol.pt*
em Treviso, Itália