A dupla de moçambicanos que dançou com Beyoncé

O mundo acabou. Dois grupos fazem um duelo no meio da poeira, carros em chamas e cenários de cortar à faca. A sensualidade trespassa o ecrã, não fosse este um clip de Beyoncé. Um grupo de homens olha com ódio, raiva e algum espanto para as mulheres, lideradas pela cantora. Ela começa a dançar. Dança…

o grupo ganhou popularidade após a sua participação, em 2011, no clip ‘run the world (girls)’ da cantora norte-americana beyoncé.

mário cresceu no bairro unidade h, em maputo. começou a dançar ao som de ritmos sul-africanos. «a maioria das rádios que havia na altura só dava músicas sul-africanas. descobri que tinha talento e continuei a dançar na minha zona, em festinhas. todos os meus amigos dançavam o kuduro. e, quando chegava a minha vez de dançar, era sempre muito aplaudido», conta mário.

do outro lado estava xavito, no bairro da liberdade, também em maputo. à semelhança do amigo, xavito começou a dançar ainda criança, com cinco anos, ao som de músicas sul-africanas. o seu pai era militar e aos fins-de-semana trazia os amigos para casa, ligava a música e xavito fazia o seu show, em troca de rebuçados. foi um vídeo de uma actuação do grupo num casamento que chegou aos olhos de beyoncé. a cantora procurava um estilo de dança diferente, e mandou a sua produção localizar os w-tofo. foi assim que o convite lhes chegou às mãos, por intermédio de um amigo, que recebeu uma chamada de um agente em inglaterra.

já eram procurados havia muito tempo e só faltavam alguns dias para os ensaios e gravação do vídeo. tiveram apenas dois dias para tratar os documentos da viagem, passaporte, bilhete de identidade e visto. no terceiro dia, a 5 de abril de 2011, embarcaram rumo a inglaterra. só lá ficaram a saber que o trabalho seria com beyoncé. a ideia inicial era ensaiar com as bailarinas da estrela. seguiram para os estados unidos, onde descobriram que a cantora mudara de ideias, preferindo tê-los no vídeo, a dançar ao seu lado. «é uma excelente pessoa e bastante profissional. no primeiro dia, ela ficou super cansada, pediu massagens principalmente nos pés, porque este estilo exige muita força, mas nunca pensou em desistir», narra xavito.

estiveram durante duas semanas nos estados unidos, tiveram de faltar às aulas, em período de avaliações, mas pediram um documento para justificarem as faltas e não perderem o ano.

depois disso, a sua vida mudou. recebem mais convites, são mais reconhecidos e vêem que o estilo kwaito é cada vez mais dançado. hoje, o grupo quer que a dança seja vista como uma profissão em moçambique e vão fazer a sua parte. formar-se na área e aprender a tocar instrumentos musicais está nos planos para, mais tarde, poderem formar a sua banda.

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