Nas lojas maçónicas há três diferentes categorias de maçons: começa-se no 1.º grau, como aprendiz; passa-se ao 2.º, como companheiro; e apenas depois se chega ao 3.º, como mestre. Tal como no Opus Dei, só ao fim de dados os três passos se atinge o estatuto mais importante, se é considerado plenamente integrado e se pode exercer cargos de chefia e direção. Em cada etapa cumprem regras específicas e partilham segredos e códigos, como a forma de se movimentarem nas sessões, os toques de reconhecimento, os sinais e as palavras secretas. Se “Boaz” é a senha dos aprendizes, a dos companheiros é “Jackin”, um termo hebraico e nome do quinto filho do rei Salomão. Já a dos mestres é “Tubalcaim”, personagem bíblica. Só sabendo estas palavras podem assistir a algumas reuniões e ter acesso a informações dentro da maçonaria. São também usadas para, fora dos locais onde decorrem as sessões privadas, os “irmãos” confirmarem que outros são da mesma irmandade. Ao subir na hierarquia vão fazendo juramentos em que aceitam pactos de silêncio sobre tudo o que vão vendo, ouvindo e descobrindo. Esta questão é de tal forma importante que no dia em que evoluem de grau é-lhes comunicado um sinal que simboliza o castigo físico caso traiam os colegas, não cumpram o que prometeram e contem o que se passa dentro da irmandade. “É um sinal que usamos nos rituais e varia consoante o grau”, explica um maçon, acrescentando que quando entram e passam pela cerimónia de iniciação os outros “irmãos” revelam-lhes como devem fazer aquele gesto secreto: têm de unir os pés pelos calcanhares e afastá-los em 90 graus pelas pontas, o braço esquerdo fica caído ao longo do corpo e a mão direita aberta junto à garganta com os quatro dedos unidos e o polegar afastado. A ideia é simbolizar o corte do pescoço. “Quer dizer que antes queremos ter a garganta cortada do que revelar os segredos que nos foram revelados”, decifra aquele membro da maçonaria, explicando que na abertura e no encerramento dos trabalhos de uma loja todos fazem, juntos, os mesmos movimentos. Nessa data ficam a saber também que quando os mandarem marchar dentro das reuniões devem dar três passos em linha reta, começando pelo pé direito. E são informados de que quando baterem palmas têm de o fazer com três batidas espaçadas.
Enquanto se é aprendiz não se pode falar, não se tem direito a voto, não se assumem cargos de chefia; e nem sequer se participa em todos os encontros. Para subirem de grau têm de apresentar trabalhos, chamados internamente “pranchas”, e pelo meio vão recebendo formação sobre os símbolos, as histórias e os procedimentos maçónicos. Fica-se, em regra, cerca de seis meses a um ano nesta situação. Até que um dia um dos elementos mais antigos avisa o maçon de que chegou a hora de se tornar companheiro, uma fase intermédia, em que se pode permanecer uns meses ou anos. Prepara-se a sala e o “irmão” protagoniza uma praxe que marca a sua entrada no mundo dos companheiros, que é conhecida entre eles como a “passagem”.
(…) Aos poucos, vai-se aproximando o momento mais esperado por todos que estão na maçonaria: a chegada ao 3.º grau. (…)
Com a sala revestida de negro, coloca-se, estendido no chão e ao centro, um caixão ou um lençol preto. Junto à zona da cabeça põe-se um esquadro e uma acácia, perto do sítio dos pés um compasso aberto e dos lados uma régua e uma alavanca. Enquanto a loja está a ser preparada, o maçon que irá viver o ritual e ser elevado a mestre vai para a câmara de reflexão, rodeado de paredes pintadas de preto. Está de fato escuro, camisa branca com o avental desta mesma cor, mas sem as luvas que costuma usar.
À sua espera, dentro da sala, estão todos os “irmãos” mestres da loja, e outros convidados. Os aprendizes e companheiros estão proibidos de entrar. E no momento em que dois maçons vão buscar o protagonista, o líder manda um dos presentes deitar-se no caixão, com um lenço branco manchado de vermelho a tapar-lhe a cara. Quando o candidato entra, de costas, sente-se um profundo silêncio.
Ao voltar-se, repara então no caixão. É depois informado que houve ali um crime. O ritual baseia-se depois em descobrir o suposto assassino. Trata-se da representação da morte e da ressurreição e mostra a importância de se guardar segredo daquilo que se descobre dentro da maçonaria, especialmente neste 3.º grau. (…)
Enquanto olha para o caixão, o líder da loja explica ao futuro mestre que vai ter de provar que é inocente e manda-o passar por cima do “cadáver”. Ao fazer o que lhe é ordenado, e imitando os passos que um dos “irmãos” lhe explica, o candidato é posto de costas para o caixão. Aí, sem que ele se aperceba, o homem que ali estava deitado levanta-se e sai.
Nesse momento, o maçon que lidera o ritual simula um golpe na cabeça do candidato, que é empurrado por dois colegas para dentro do caixão. Tapam-lhe a cara com o avental e o corpo com um pano preto.
Pouco depois, o líder olha para o caixão e grita. “É Hiram!”. Isto para simbolizar que este herói renasceu na pessoa do “irmão” que agora está a ser aceite como mestre.
Concluído este ritual, que pode demorar mais de uma hora, chega o momento do juramento. “De minha livre vontade, na presença do Grande Arquiteto do Universo e desta respeitável Assembleia de Mestres Maçons, juro e prometo solene e sinceramente nunca revelar a qualquer profano, ou mesmo a qualquer aprendiz ou companheiro, os segredos do grau de Mestre. Juro e prometo cumprir fielmente e com zelo as obrigações que são impostas por este Sublime Grau. Renovo a promessa de amar os meus Irmãos, de socorre-los e ir em seu auxílio. Se alguma vez me tornar perjuro, que segundo o castigo tradicional o meu corpo seja cortado em dois e que eu seja desonrado para sempre e que não fique de mim memória junto dos maçons. Que o Grande Arquiteto me ajude e me livre de uma tal infelicidade!”
Logo depois são-lhe desvendados alguns dos mais importantes segredos do grau de mestre: duas palavras secretas, Tubalcaim e Macabeus, e quatro sinais. É através deles que os mestres maçons comunicam dentro e fora da organização. Quando vão ao estrangeiro, por exemplo, e querem participar em encontros de mestres têm de saber aquelas senhas. Quanto aos sinais, grande parte são códigos usados durante as reuniões. Com dois deles representa-se o castigo a ter, caso se traia os colegas. “Metemos os pés em esquadria, o braço esquerdo caído naturalmente ao longo do corpo, e o braço direito dobrado com a mão na zona abaixo do diafragma.”
Depois, com outro gesto, desloca-se horizontalmente a mão, da esquerda para a direita, como se se cortasse o corpo em duas partes, deixando-se de seguida cair a mão.
Uma vez que ao chegar a mestre entra no grupo dos mais importantes, os chefes desvendam-lhe mais sinais: o “de horror” e o “de socorro”. Para executar o primeiro ergue-se as mãos acima da cabeça, tendo os dedos estendidos e separados e diz-se: “A Senhor Meu Deus!” Após esta exclamação deixa-se cair as mãos sobre o avental. Este sinal deve ser feito quando se entra em reuniões exclusivas de mestres. Se estes três primeiros sinais são utilizados essencialmente nas cerimónias internas, o “de socorro” é para ser usado sempre que dentro e fora da maçonaria um maçon se sinta em perigo e queira pedir ajuda a outros “irmãos”. Para isso, atira-se o pé direito para trás, com o busto inclinado, ergue-se as mãos acima da cabeça, tendo os dedos entrelaçados e as palmas viradas para cima e exclama-se:
“A Mim, ó Filhos Da Viúva.” (…)
* Excerto do livro O Fim dos Segredos, da jornalista do SOL Catarina Guerreiro