Os interesses de Santos Silva e do Grupo Lena

Se dúvidas houvesse quanto ao papel de Carlos Santos Silva no Grupo Lena, o administrador Joaquim Barroca Rodrigues encerrou o assunto quando disse ao juiz Carlos Alexandre que a função do empresário era abrir portas à internacionalização – uma das prioridades traçadas desde 2001. Oficialmente, Santos Silva começa a trabalhar com a empresa em 2007. 

Os interesses de Santos Silva e do Grupo Lena

O grupo de Leiria, que em 2009 foi o maior fornecedor do Estado, ou seja, o que mais participou em obras públicas, chegou também nos últimos anos a grandes empreitadas de países como Venezuela, Argélia e Angola. Tanto no plano interno como externo, o DCIAP acredita que tal só foi possível com as influências que Sócrates moveu.

No caso da Venezuela, desde 2008 que a entrada do grupo neste país era uma prioridade nos encontros entre Sócrates e Hugo Chávez. Primeiro surgiu integrado no consórcio que ganhou o concurso para a ampliação do porto de la Guaria, um investimento de 658 milhões de euros. Dois anos depois para garantir que a Lena construiria 12.500 casas prefabricadas, no valor de 790 milhões de euros.

Entre 2006 e 2015, a presença do grupo na Argélia também se transformou num caso de sucesso. Em menos de uma década construiu um hotel, cinco hospitais, um parque de estacionamento para aviões e outro para carros. Construiu também estradas, num total de 225 quilómetros.

A forte presença do grupo de Leiria começou com as incursões de Sócrates a Argel. E logo em 2008, de todas as empresas com obras encomendadas naquele país, a Lena e a Abrantina (adquirida por este grupo) representavam metade do volume total, ou seja, 113 milhões de euros.

Em 2011, depois de três visitas de Sócrates à Argélia (que aconteceram entre 2007 e 2008), uma notícia dava conta da saída da Mota-Engil do mercado argelino por estar «cansada» de não ganhar obras – mas, em contrapartida, o grupo de Leiria tinha faturado naquele mercado mais de 30 milhões, só em 2010.

Em  Portugal também tudo corria de feição. Do total de adjudicações da segunda fase da Parque Escolar, o Grupo Lena foi o que mais se destacou, tendo ficado com mais de 10% do valor total – 89 milhões em 841 milhões. E nas restantes obras públicas, entre 2008 e 2011, foram-lhe adjudicadas obras de 175 milhões de euros.

Sobre Angola, destaca-se sobretudo o contacto feito por Sócrates  ao vice-Presidente, pedindo que recebesse amigos a quem «devia atenções».

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carlos.santos@sol.pt