Fernando Lopes: o cineasta que se comovia demais

Fernando Lopes, realizador de filmes como Belarmino (1964) e Uma abelha na chuva (1971), que dizia «beber demais, fumar demais» e comover-se demais, morreu hoje, aos 76 anos, no hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.

a informação foi confirmada à lusa pela directora da cinemateca portuguesa, maria joão seixas.

nascido a 28 de dezembro de 1935, em maçãs de dona maria, concelho de alvaiázere, no distrito de leiria, fernando lopes integrou a equipa inicial de jovens profissionais que fundou a rtp – em cujo quadro técnico ingressou em 1957, ano do início das emissões – e foi director do canal 2, que chegou mesmo a assumir o seu nome, canal lopes, sob a presidência de joão soares louro, entre o final da década de 1970 e o início da seguinte.

na rtp, fernando lopes fundou ainda o departamento de co-produções internacionais.

fernando lopes passou a infância em ourém, aos cuidados de uma tia e, aos 10 anos, fixou-se em lisboa, junto da mãe. pouco tempo depois, começou a trabalhar como paquete enquanto prosseguia os estudos no ensino técnico.

o despertar para a realização aconteceu através do movimento cineclubista, como assumiu mais tarde, tendo sido sócio do cineclube imagem, dirigido por josé ernesto de sousa.

em 1959, tornou-se bolseiro do fundo de cinema nacional, indo estudar para a london school of film technic, no reino unido, onde obteve o diploma de realização de cinema, e estagiado na bbc, a televisão pública britânica.

belarmino – uma média metragem sobre a vida do pugilista belarmino fragoso – foi a primeira obra que o destacou, em particular na área documental, após a curta-metragem as pedras e o tempo.

belarmino foi realizado depois de regressar de londres e a crítica considerou-o a obra-chave do movimento do novo cinema português, a par de dom roberto(1962), de ernesto de sousa, e verdes anos (1963), de paulo rocha.

em 1965, fernando lopes foi estagiar para hollywood, onde permaneceu seis meses.

no regresso, realizou uma abelha na chuva (1971), baseado no romance homónimo de carlos de oliveira, que juntamente com belarmino e o delfim (2002), acabariam por tornar-se as obras mais conhecidas da filmografia do realizador hoje falecido.

fernando lopes leccionou no curso de cinema da escola superior de teatro e cinema de lisboa e dirigiu a revista cinéfilo, com antónio-pedro vasconcelos, editada no início da década de 1970.

em câmara lenta (2011), os sorrisos do destino (2009), 98 octanas (2006), lá fora (2004), o fio do horizonte (1993), a partir do romance de alberto seixas santos, matar saudades (1988), crónica dos bons malandros (1984), e nós por cá todos bem (1976), uma evocação da mãe, são alguns dos filmes que estabeleceram a dimensão do cinema de fernando lopes.

cantigamente, as armas e o povo, um filme colectivo, the bowler hat, interlude e the lonely ones são outros trabalhos do cineasta hoje falecido em lisboa, assim como o documentário o meu amigo mike ao trabalho, sobre o artista michael biberstein, dirigido em 2008.

a versão portuguesa da curta-metragem kali, o pequeno vampiro, de regina pessoa, recém-apresentada no indie lisboa 2012, conta com a narração de fernando lopes.

lovebird, de bruno de almeida, protagonizado pelo realizador, e provavelmente fernando lopes, de joão lopes, são dois filmes que contam com o carácter daquele que dirigiu belarmino.

lusa/sol