Nos Primavera Sound invade Parque da Cidade do Porto

O NOS Primavera Sound invade o Parque da Cidade, no Porto, de quinta a sábado. PJ Harvey, Air, Brian Wilson, astros que todos querem ver. Aqui seguem cinco sugestões alternativas, ou mesmo obrigatórias. 

Freddie Gibbs

Fredrick Tipton, nome que lhe consta no cartão de identidade, nasceu e cresceu em Gary, Indiana. Nem sempre os primeiros passos são bem dados neste universo que é o rap americano, as ruas são escuras e as armas abundam, mas Freddie Gibbs lá conseguiu, a esforço, livrar-se dessa teia. Sorte a dele, e sobretudo a nossa, que agora vamos poder vê-lo a estrear-se em Portugal. Só que não foi só a isso que Freddie Gibbs escapou, as desilusões são para superar, mas a vida ia torta. Em 2006, o rapper assinou um contrato com a Interscope Records e gravou um disco que nunca viria a sair, devido à mudança de liderança na editora norte-americana. Só viria a editar o seu primeiro longa-duração em 2013, Shadow of a Doubt. O seu segundo disco foi considerado um dos melhores de 2015 na comunidade hip-hop. Espera-se um concerto de rap mórbido, quase íntimo. Mas ainda assim gangster.

Car Seat Headrest

Will Toledo começou por levar a guitarra e o seu computador portátil para o banco de trás do seu carro. Todo o santo dia conduzia até a um parque de estacionamento de Leesburg, Vírgina, e tocava e gravava e deixava-se estar. Nesses anos libertou um sem-fim de discos no seu bandcamp. Mas o relativo anonimato não podia ser eterno, sobretudo quando estamos perante alguém tão talentoso, tão próprio de uma geração desiludida consigo própria, com o mundo onde se inscreve. Chamou os amigos e hoje os Car Seat Headrest já editaram dois discos pela Matador e são uma das mais urgentes e desejadas bandas do circuito alternativo. Rock que é uma lição de vida, uma tremenda depressão.

Floating Points

Há nomes que dizem tudo, e no caso de Sam Shepherd diz mesmo. Floating Points reflete-se até na sua forma de edição, singles e pequenas edições, sets para rádios a fingir que era uma orquestra, eletrónica espalhada pela internet. 2009 e 2011 foram anos de EPs mas a verdade é que para quem já aqui anda desde 2008 ter chegado ao primeiro disco em 2015 é algo estranho. Elaenia parece ser um pouco de todas as pedras que Shepherd foi apanhando no caminho. Nascido e criado em Manchester, é um dos fundadores da Eglo Records e dono de uma eletrónica frágil, dispersa, para tratar e dançar com carinho mas sem tornar a coisa lamechas. É isso que se pede que faça no Parque da Cidade, mexer o corpo com o cuidado de um bisturi, até porque o inglês é doutorado em neurociência, algo que ajuda a entender a sua forma de tocar.

Parquet Courts

Algures entre o deserto texano e o ruído nova-iorquino estão os Parquet Courts. São de Denton, Texas, mas há alguns anos que se mudaram para Brooklyn, e isso nota-se, sobretudo no seu mais recente disco Human Performance. Já nos tínhamos cruzado com estes rapazes no palco secundário do NOS_Alive, era 2014, e se em disco já estava tudo bem, já éramos deles, depois desse concerto não houve regresso, tudo faz sentido e perder a possibilidade de assistir a um concerto dos Parquet Courts é praticamente proibido. Rock de tempos idos, herança revivalista que parecem carregar naturalmente, porque os 70s já lá vão mas não têm que morrer. O seu líder, Andrew Savage, é um dos grandes compositores da sua geração e os Parquet Courts são profundamente filhos disso: interventivos, irrequietos, nervosos. Isto tudo, obviamente, no bom sentido. Há uma frase que tem que decorar antes do concerto: «Dust is everywhere / Sweep». Verso retirado da faixa ‘Dust’ que promete meter todos os fãs a dançar e a varrer, modo vassoura.

Ty Segall and The Muggers

O nome maior destas nossas escolhas fica para o fim, não por valer menos, mas porque necessita, talvez, de menos apresentações. Diga-se que é um dos mais agitados compositores e multi-instrumentistas que por aí correm, mas o que Ty Segall faz com a guitarra, sobretudo ao vivo – quem esteve no Lux Frágil e no NOS Primavera Sound de 2014 bem o sabe – é quase sobre-humano. Os riffs, a forma como parece esmagar as cordas, fazem emergir sonoridades inquietantes que nos provocam choques no corpo. Aos 28 anos tem mais de dez discos editados entre vários projetos, e é quase sempre certo que, pelo menos uma vez por ano, lá venha outro. É um homem consistente e um músico exímio.