À tarde somos presas

À noite logo se verá. Sol como nunca neste início de tarde. Linda Martini como sempre: casa abaixo

Os Linda Martini começam com o seu costume habitual: as cordas todas no assador, tão bem que grelham, rock suculento que vem apresentar "Sirumba" ao Parque da Cidade. Se para os portugueses pode já não ser novidade, que seja para turista ver, que os levem para casa, que comprem os seus discos.

Logo no início"Unicórnio de Sta. Engrácia" segundo tema do concerto, indaga sobre o facto de andarmos neste lugar sempre na dúvida se caçamos ou somos caçados, se é melhor ser-se "presa ou predador". Segue-se a faixa-título e a afirmação de que estes quatro autodidatas nunca serão doutores, rejeitam-no aliás, com todas as letras. Misturam o novo disco com os temas antigos, que os levaram ao patamar mais alto da música nacional.

Linda Martini é sempre igual a arromba, os rockeiros vieram todos, aqueles que mais logo vão estar, quase de certeza, em Ty Segall. Uma década de carreira que se nota na forma bruta e audaz como tomam conta deste fim de tarde, estão, provavelmente, melhor do que nunca, as cordas a conversarem com mais tempo, a voz de André Henriques sempre intocável, meio cristalina meio decadente.

Com isto tudo convém relembrar que quando estão em palco há sempre uma altura em que "os ratos são para devorar", um dos picos eternos dos seus concertos, este é mais um. Daí para a frente não mais perderam o público, que não é novo nisto, foram poucos os artistas que podem alegar ter pisado este palco com tanto apoio, os Linda Martini são mesmo um caso raro.