Corrupção na PSP investigada

DIAP de Lisboa abriu inquérito para investigar a implicação de outros polícias na rede de tráfico e corrupção detectada em Cascais. Um oficial da PSP é suspeito de encobrir multas dos arguidos.

o departamento de investigação e acção penal (diap) de lisboa suspeita que o grupo de polícias da psp de cascais acusados há três semanas de associação criminosa, tráfico de droga e extorsão, entre outros crimes, tem ramificações e pontos de apoio noutros quadrantes da psp.

no despacho de acusação, o procurador josé ramos mandou extrair certidão para investigar, de forma autónoma, indícios de «corrupção» que envolverão outros elementos da instituição. em fevereiro do ano passado, uma troca de sms entre o agente antónio costa (conhecido por costinha), de cascais, e o então comandante da divisão de trânsito de lisboa, comissário joão pinheiro, levantou suspeitas. o oficial – que, apurou o sol, saiu daquele serviço em setembro de 2011 – pedia a costinha dados de identificação de uma cidadã «romena», «para a multa».

no relatório final, a psp descodificou este diálogo: «na senda dos crimes desenvolvidos por antónio costa, e no gozo da imunidade de que pensa usufruir, consegue, quando é necessária alguma transgressão de trânsito, que seja encoberta com identificações de cidadãos estrangeiros por forma a atrasar a execução da justiça».

para já, a unidade especial de combate ao crime especialmente violento do diap de lisboa acusou 31 arguidos, 13 dos quais são polícias, de crimes como associação criminosa, tráfico de droga e segurança privada ilegal.

há quase 20 anos ao serviço da divisão policial de cascais, costinha – que, segundo o ministério público, liderou durante anos uma rede de tráfico e de corrupção no seio da psp – tinha ascendente sobre os restantes membros do núcleo duro do grupo: o agente filipe machado, o chefe teixeira, o subcomissário canilho (ex-comandante da esquadra do estoril) e o comissário grilo (ex-chefe operacional do comando de lisboa).

favor a administrador da cp


quando o líder da rede criminosa desconfiou que estava a ser investigado por superiores, o ‘cowboy de cascais’ – como também era conhecido costinha – não deu o flanco. pegou no telemóvel e pediu ajuda a um ‘padrinho’.

filipe palhau, actualmente em comissão de serviço na polícia municipal de oeiras, tranquilizou-o: ele próprio falara com o subintendente rafael marques, comandante da divisão de cascais, que lhe garantiu que não existia qualquer inquérito em curso. noutro telefonema, o oficial aproveitou para tratar de outro assunto. soube que havia um administrador da cp – cujo nome nunca é revelado no processo que o sol consultou – que precisava de um motorista que transportasse os dois filhos menores entre a sua casa, em oeiras, e os colégios, na parede e em carcavelos. e perguntou-lhe se não «arranjava alguém» para o serviço. muito requisitado em cascais para este tipo de favores, o arguido anuiu e até se ofereceu para encontrar-se com o gestor – que estava disposto a pagar.

confrontado mais tarde com estas escutas, palhau alegou que a oferta era para um agente «reformado». e descartou qualquer cumplicidade com antónio costa, negando ter feito perguntas sobre ele. admitiu, porém, que em «conversa informal» possa ter perguntado como andava o serviço em cascais, mas apenas para saber com que pessoa estava a lidar. as explicações convenceram a psp e o caso não mereceu mais averiguações durante uma investigação que durou dois anos.

‘banhadas’ a traficantes

num processo declarado de especial complexidade, com prova abundante em escutas telefónicas,
os investigadores desmontaram um esquema antigo: os arguidos angariavam informadores, a quem pagavam para marcarem encontros com traficantes e assim conseguirem apanhá-los em flagrante, a vender droga. parte do produto e do dinheiro era depois desviado pelos polícias para revenda. geralmente, sobrava sempre uma «prendinha» para os colaboradores.

mas, segundo a acusação, havia traficantes que o grupo protegia, como o dj ivo d’oliveira, também acusado no processo por um crime de tráfico de droga na forma consumada.

durante anos, além da segurança privada a estabelecimentos e pessoas – algumas com elevado poder económico –, este esquema foi uma verdadeira fonte de rendimento para os arguidos. da análise das 41 contas bancárias, o diap identificou «créditos extra ordenado (alguns em numerário) muito elevados, chegando mesmo a ser de valor superior aos ordenados». por serem de «difícil compreensão», o procurador josé ramos conotou-os com «enriquecimento ilícito».

sonia.graca@sol.pt