Alemanha: um muro na estreia

Portugal estreia-se hoje no Euro-2012 com o rival que o mandou para casa há quatro anos, com três golos em cinco remates. Os lances de bola parada revelaram-se fatais e voltam a ameaçar.

era tão previsível, que o treinador-adjunto da alemanha, hans-dieter flick, apostou que portugal iria sofrer um golo na sequência de um livre ou de um canto. ganhou a dobrar.

nos quartos-de-final do europeu de 2008, klose e ballack destruíram a selecção das quinas com dois golos de cabeça, confirmando a superioridade germânica nos lances de bola parada. «determinámos quem marcava quem, mas os nossos jogadores mudaram de adversário no momento dos livres e a alemanha aproveitou», explicou então luiz felipe scolari, lamentado as «falhas de concentração num jogo decisivo».

quatro anos depois, portugal reencontra os alemães na partida de estreia no euro-2012. e embora jogadores talentosos como ozil, muller e gotze emprestem agora à equipa uma criatividade pouco habitual, o maior perigo que cristiano ronaldo e companhia vão enfrentar amanhã chegará outra vez pelo ar.

é bem conhecida a dificuldade portuguesa em lidar com este tipo de situações e homens como boateng, mertesacker, badstuber, hummels, khedira, mario gómez ou klose são letais no jogo de cabeça. com uma média de alturas de 1,85 metros, a mais elevada das 16 selecções do euro-2012 a par de croácia e ucrânia, a alemanha sabe que este é um dos pontos a explorar.

«portugal corre riscos nos lances de bola parada e nós temos jogadores muito bons nessas jogadas», comentava em 2008 o técnico adjunto de joaquim low, dupla que se mantém à frente da selecção germânica.

a selecção nacional está mais do que avisada, como estava há quatro anos. apesar de ter dominado o jogo, sofreu três golos em cinco remates à sua baliza e regressou a casa com uma derrota por 3-2. deco resumiu numa frase o que se passou: «não resolvemos os problemas que já sabíamos que íamos ter».

não repetir o erro

paulo bento quer evitar cair no mesmo erro. a uma pergunta do sol, ainda antes da partida para a polónia, o seleccionador adiantou que o estágio em óbidos serviu para ensaiar a estratégia ofensiva e defensiva, «incluindo as bolas paradas».

a possível inclusão de hugo almeida no onze titular frente à alemanha – em vez de hélder postiga – ajudará a diminuir o fosso de altura para os gigantes alemães. já no meio-campo defensivo miguel veloso deve manter a confiança de bento, apesar de custódio ser mais valioso no jogo aéreo.

«não nos prepararamos para as bolas paradas só com um jogador», justificou o técnico português, que em declarações ao site da uefa prometeu uma equipa virada para o ataque:_«temos de ser organizados, agressivos e corajosos. se pensarmos apenas em defender, de certeza que não conseguiremos um bom resultado».

a alemanha arranca para a fase final como uma das grandes favoritas a conquistar o título europeu, ao lado da espanha. joachim low reconhece que tem à sua disposição o leque de jogadores «mais talentoso» do seu reinado à frente da selecção, iniciado em 2006. e não esconde a sua ambição: «o desejo de títulos é maior do que nunca».

após uma fase de qualificação perfeita, com 10 triunfos em 10 jogos, os alemães sofreram um revés inesperado no particular frente à suíça, no passado dia 26, ao perderem por 5-3. já antes, em fevereiro, tinham sido derrotados pela frança (2-1). mas low não jogou com todos os titulares.

frente a portugal, que também revelou fragilidades nos jogos de preparação, a prioridade será travar cristiano ronaldo, embora o seleccionador germânico tenha elogiado ainda nani e o poder físico de pepe e bruno alves.

da dupla de centrais dependerá em boa parte o sucesso de portugal. os dois esteios da defesa são os mais aptos a ganhar os duelos aéreos. depois será necessária uma dose de inspiração. como a de carlos manuel na campanha para o mundial-1986 ou a de sérgio conceição no euro-2000. foram eles os protagonistas das duas únicas vitórias de portugal sobre a alemanha num total de oito jogos oficiais.

rui.antunes@sol.pt