Golpe na Turquia. Erdogan regressa a Istambul e promete “limpeza”

Foi numa histórica entrevista por videochamada no Facetime – através da tal Internet que tantas vezes já interditou aos seus cidadãos –, que Recep Erdogan terá começado a recuperar o controlo momentos depois do anúncio de um golpe militar em curso. 

“Peço às pessoas que se juntem nas ruas e no aeroporto. Não há força maior do que o povo”, disse o Presidente turco em direto na CCN Turquia, onde aparecia através do telefone da apresentadora.

Erdogan garantiu que apenas um grupo do exército estava a tentar derrubar o regime e que não o iria conseguir. Ligando o grupo ao seu arqui-inimigo Fethullah Gülen, o chefe do Estado turco disse que “o país não pode ser governado a partir da Pensilvânia”, em referência ao exilo do rival nos EUA. Os golpistas vão “pagar caro”.

Promessa feita quando as imagens o contrariavam, pois viam-se tanques a barrar o acesso ao aeroporto e às principais entradas de Istambul e Ancara ¬– além dos helicópteros e caças que sobravam as principais cidades do país desde o início do golpe.

Mas as essas forças começaram a juntar-se massas de civis apoiantes do regime. Depois imagens desses civis a deter soldados, entregando-os à polícia. Houve pelo menos dois mortos civis nas primeiras respostas dos revoltosos, havendo ainda relatos de existência de vítimas em dois bombardeamentos ao parlamento turco, em Ancara. Está também por confirmar o número de baixas entre militares e forças de segurança leais a Erdogan.

Presidente no cargo há dois anos, mas que antes passara 11 na chefia do governo. Desde então que tenta mudar a Constituição de forma a reforçar os poderes da presidência, mas mesmo sem o ter conseguido ninguém duvida que é ele que controla o país. De tal forma que ao fim de dois anos já se viu ‘forçado’ a trocar de herdeiro na chefia do governo, saindo Ahmet Davutoglu para dar lugar a Binali Yildirim.

Cerca de seis horas depois de os militares anunciarem ter “assumido o controlo do país”, Erdogan aterrava no aeroporto onde se iniciara o golpe. A calma estava longe de regressar à Turquia, mas o apelo às massas parecia estar a devolver o controlo a Erdogan.

“Um grupo minoritário tentou atingir a integridade deste país. Foi uma traição e vão ter de pagar caro por isto. São governos que foram eleitos pelo o povo, um presidente que foi eleito pelo povo e não podem encarar o facto de Erdogan ser o comandante em chefe”, disse em conferência de imprensa minutos depois de aterrar.

Vem aí uma “limpeza” no exército, prometeu depois de agradecer aos “milhões” que saíram à rua resistir ao golpe.

nuno.e.lima@sol.pt