Terrorismo continua a mudar os fluxos de procura turística

Na Turquia, por exemplo,  o número de chegadas caiu para mínimos de há duas décadas. Só num mês,  este país perdeu 35%  dos turistas

A palavra terrorismo chegou ao dia a dia da Europa como nunca tinha acontecido antes. Com ataques que se somam em diferentes países do centro europeu, a sensação de segurança acaba por ditar os destinos escolhidos quando chega a hora de viajar.

Ao i Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo, não esconde que, com os atentados terroristas, Portugal pode ter acabado por sair beneficiado enquanto destino turístico.

“Portugal estava no momento certo e nas condições certas para aceitar a procura e os desvios da procura. Fizemos nos últimos 10 anos um enorme esforço público e privado em termos de qualificação do nosso país, e isso deu frutos certos no momento certo, que é conseguir aproveitar os fluxos da procura turística”, explica.  E a verdade é que a procura de Portugal enquanto destino tem vindo a aumentar as expetativas. Por exemplo, de acordo com associação alemã das agências de viagens (DVR), este ano espera-se um aumento na ordem dos 20% em termos de turistas alemães. O destino preferido costumava ser a Turquia, mas a onda de violência que se tem sentido neste país, aliada aos atentados terroristas têm retraído os turistas desta nacionalidade. Norbert Fiebig, presidente da DVR, garante mesmo que “Portugal é um país com uma tremenda riqueza para o turismo. Não se limita a oferecer sol e o mar com praia, mas também um turismo de cidade, designadamente em Lisboa e Porto, que é muito apelativo”. De acordo com dados da DVR divulgados no mês de março, Portugal atingiu, em 2015, o recorde de 1,1 milhões de turistas alemães. Este ano, a previsão é de que esta procura continue a aumentar.

Impacto do terrorismo no setor A Turquia é um dos exemplos do impacto negativo que os ataques têm no setor do turismo. Istambul foi palco de um atentado terrorista a 29 de junho deste ano. Sendo que, só desde o início deste ano, a Turquia já regista o quinto ataque suicida, o que complica a realidade do país, que vê no setor do turismo uma das principais fontes de rendimento. Em apenas alguns meses, os ataques em Istambul e Ancara fizeram centenas de mortos e feridos e levaram a uma preocupante mudança no panorama do turismo do país. Na sequência dos ataques na Turquia, o número de chegadas a este país atingiu o nível mais baixo em duas décadas. Aliás, os exemplos mais recentes mostram que, a seguir a um ataque terrorista, há sempre uma queda inevitável na procura dos destinos.

Os atentados em Paris, em novembro do ano passado, penalizaram desde cedo o setor. Perante o receio de novas investidas, houve um verdadeiro travão nas viagens. Um dos impactos mais imediatos foi na bolsa. Todo o setor começou a ressentir-se, com o índice que agrega desde companhias aéreas a restaurantes e hotéis a ganhar grande destaque nas perdas. No mês de junho deste ano, as consequências ainda se sentiam na capital francesa. Os turistas ainda não começaram a voltar em peso à Cidade-Luz.

O cenário atual é marcado por uma baixa ocupação hoteleira e restaurantes que viram melhores dias e mais turistas. Em abril, por exemplo, a taxa de ocupação caiu cerca de 11 pontos, chegando a atingir os 70%, em comparação com 81,4% do ano anterior. Como forma de atrair mais turistas, os hotéis baixaram os preços e, de acordo com o indicador RevPar, registou-se mesmo uma queda de quase 20% na faturação.