Rajoy e Sánchez repetem ridículo e já falam em novo voto

PM tenta seduzir socialistas com coligação ou acordo parlamentar. Sánchez aconselha-o a procurar apoios entre os aliados naturais

Há menos de três meses, a 14 de julho, Mariano Rajoy terminava a primeira ronda de reuniões com todos os partidos espanhóis com apenas uma “boa notícia” – o facto de todos os partidos rejeitarem uma nova repetição do voto, que já fora uma repetição de outro idêntico a 20 de dezembro. “Um ridículo mundial”, era assim que o ainda chefe do governo espanhol se referia à hipótese. Até que ontem, após inaugurar a segunda ronda com uma conversa de 55 minutos com o socialista Pedro Sánchez, o mesmo Rajoy apareceu ameaçador: “Se Sánchez mantém o não” à formação de um bloco central entre populares e socialistas, “voltaremos a repetir as eleições”.

É a resposta de Rajoy à chantagem do socialista: “se a direita não apoia Rajoy, porque o fará a esquerda?”, questionou Pedro Sánchez ao sugerir ao rival que aposte na “coligação conservadora” que lhe permitiu somar os 179 votos com que fez de Ana Pastor presidente do Congresso, há duas semanas. Mas isso implica um voto favorável do Ciudadanos a nova posse de Rajoy, algo já rejeitado inúmeras vezes pelo líder Albert Rivera.

“É um dado objetivo”, diz Rajoy: “o bloqueio” socialista “provocará novas eleições”, diz o líder popular mostrando pouca crença na reconciliação com Rivera na reunião que os dois têm agendada para hoje. Rajoy ofereceu a Sánchez um pacto de governo de coligação e até um acordo mais ‘à portuguesa’ – embora não à esquerda. Algo que passaria pela negociação prévia de reformas, entre equipas dos dois partidos, que permitissem aos socialistas continuar na oposição desde que garantissem apoio parlamentar ao governo.

Sánchez, que também se disse “mais preocupado no fim do que no início” do encontro, concorda com os danos que a eternização do impasse cria à “imagem internacional” do país. Mas, depois de se ter sujeitado ao chumbo parlamentar quando se ofereceu para chefiar o governo após a eleição de dezembro, defende agora que o fim do impasse não depende do PSOE: “na esquerda, desejamos que a direita se ponha de acordo”.

“Salvo algumas vozes isoladas, os militantes do PSOE e creio que os votantes, não querem que apoiemos o PP”, explicou Sánchez no final do encontro. Referia-se ao ex-governante Felipe González, que pediu a abstenção socialista na investidura do popular, porque “há que deixar formar governo, mesmo que Rajoy não o mereça”.