Seleção: a jogar contra os ídolos, com menos de cinco já se faz a festa!

A seleção de Gibraltar é composta por jogadores semi-profissionais, que fazem os seus jogos depois de um dia de trabalho comum. Livramento e Bernardo Lopes andam por lá e ficarão surpreendidos se não houver goleada

A ressaca do título europeu ainda se faz sentir em muitas cabeças, à roda desde então. Até por isso, não havia melhor adversário para o primeiro jogo pós-festa de França: Gibraltar, conhecido mundialmente – e internamente também – como o ‘país do Rochedo’. Apenas reconhecida pela UEFA em 2013, e pela FIFA este ano, a seleção gibraltina é composta unicamente por atletas semi-profissionais – que é como quem diz, futebolistas em ‘part-time’.

De serventes de pedreiro a taxistas, passando por agentes da autoridade, todos estes rapazes desempenham as suas profissões base durante o dia e só depois de oito horas de trabalho é que se juntam para treinar e jogar.

Este cenário é seguido de muito perto por dois jogadores portugueses desde a última temporada: António Livramento e Bernardo Lopes, ambos atletas do Lincoln Red Imps durante este período – Livramento deixou o clube há poucas semanas. Profissionais a tempo inteiro, como o são apenas e só os estrangeiros que competem naquela liga, os dois lusos têm grandes amigos na comitiva que hoje entrará em campo no Bessa, mas nem por isso – ou até por isso – conseguem sequer pensar noutro cenário que não uma goleada para Portugal. “Eu na brincadeira tenho dito aos meus ex-colegas com quem tenho falado nos últimos dias que para nós menos de cinco é derrota! E é na primeira parte!”, graceja Livramento, em conversa com o i: “O lateral-direito deles, o García, é um rapaz assim muito magrinho, e eu dizia-lhe sempre antes de saber que o Ronaldo não jogava: ‘o Ronaldo vai atropelar-te, vai passar por ti e nem te vê pelo caminho! Eles vão sofrer um bocadinho.”

Meia-hora a abrir… e acabou Mais a sério, o médio português de 34 anos acredita que, no primeiro terço do encontro, Gibraltar até vai mostrar qualquer coisinha. “Eles estão muito motivados e entusiasmados por jogar contra o campeão europeu. Nos primeiros 20, 30 minutos vão dar tudo, mas depois não há comparação possível.

Além disso, o campeonato de Gibraltar ainda está na pré-época, por isso eles fisicamente estão muito atrás. E tecnicamente, estão a léguas dos portugueses. Mas adoram-nos”, realça ‘Livra’, lembrando conversas na altura do Europeu: “Eles tiravam por Portugal, até por terem dois portugueses na equipa. Agora, poderem jogar contra esses craques, alguns dos quais são os seus ídolos, deixou-os muito entusiasmados. E eles dizem que não vão perder, que vão dar luta. Mas é tudo de um modo muito reticente (risos)!”

Igual vivência tem Bernardo Lopes, defesa luso de 23 anos. “Para eles, é um sonho poder fazer um jogo destes, contra os campeões da Europa em título. Querem mostrar a qualidade que têm, e na brincadeira têm-me chateado, a dizer que o Quaresma e o Nani agora é que têm de mostrar o que valem e que não vão passar por eles (risos). Mas eles sabem perfeitamente que é muito difícil conseguir um resultado positivo neste jogo. Se não forem goleados, já vai ser uma vitória para eles”, considera Bernardo, que chegou a defrontar André Silva nas camadas jovens do futebol português. “Se tiver alguns minutos, pode marcar e cimentar o seu estatuto na Seleção. Há alguns anos que não tínhamos um ponta de lança com estas características”, salienta. Já Livramento vai mais longe: “Se continuar a evoluir como até aqui, estamos servidos de ponta de lança para os próximos dez anos!”

Homenagens para todos Pela primeira vez desde a épica conquista em França, a comitiva portuguesa pôde ontem festejar com as gentes do Norte. Perante um mar de gente que compareceu para ver os jogadores, nas varandas da Câmara Municipal do Porto, Marcelo Rebelo de Sousa exaltou novamente o feito da equipa das Quinas e relacionou-o com a alcunha da cidade. “A segunda cerimónia de receção à equipa que saiu vitoriosa no Europeu só poderia decorrer na cidade Invicta. Invicta, porque invencível e vitoriosa vai para dois séculos”, salientou o Presidente da República, depois de agraciar jogadores e equipa técnica com as insígnias da Ordem de Mérito. “No Porto como em Lisboa, como em qualquer recanto da comunidade portuguesa, todos vibrámos porque Portugal é de todos e é sempre o mesmo”, reforçou, prometendo para outras núpcias nova cerimónia de homenagem, desta feita dedicada aos dirigentes da FPF.