TV: Por que há delays nos jogos?

Ainda a bola não tinha chegado à área do adversário, no televisor da sala, e já Célia gritava golo na cozinha. Varela acabara de marcar, no relato da TSF, e quem assistia à emissão da SIC não imaginava sequer que a jogada fosse terminar em golo. E na vitória da Selecção Nacional contra a Dinamarca.

o atraso entre a emissão de rádio e de televisão – e mesmo entre canais – existe, mas a questão levanta-se sempre que há jogos de futebol. «não é simpático saber pelo vizinho que portugal marcou um golo», repara fonte oficial da zon, que justifica este delay com os processos de codificação e descodificação da informação. no caso dos clientes desta operadora, o atraso na recepção do sinal é de cerca de cinco segundos. mas aumenta quando o espectador opta por ver o jogo na sporttv, chegando aos oito.

«temos consciência de que há uma diferença entre quem vê um jogo do euro numa generalista e quem o vê na sporttv, mas não contabilizamos o tempo. isso não tem relevância para nós, porque tecnicamente estamos a enviar um sinal de qualidade muitíssimo superior», explica pedro magalhães, coordenador técnico do conjunto de canais desportivos. o sinal original emitido por estes canais é sempre em hd, por isso, «três vezes mais pesado do que o sinal standard», acrescenta.

sem justificação técnica

mesmo quem não assiste à competição europeia através destes canais premium, nota diferença entre a emissão da rtp1, sic e tvi, por subscrição – em que a transmissão é feita por sinal analógico –, e o sinal emitido pelos mesmos canais via tdt. e este delay pode chegar aos segundos verificados com a transmissão de um sinal de alta definição.

«é normal existir algum atraso, mas de seis ou oito segundos é um exagero», afirma eliseu macedo, engenheiro de telecomunicações, para quem não existe justificação técnica para o problema.

segundo este especialista, a passagem do sistema analógico para o digital – que se deu com a introdução da tdt em portugal – levaria necessariamente a uma diferença de dois segundos entre emissões, que correspondem ao tempo «da digitalização e, depois, da descompressão do sinal, para que as pessoas o possam ver em imagem, no televisor». isto, tendo em conta alguma «tolerância».

os restantes segundos poderiam ser explicados com o ‘caminho’ que é percorrido pelo sinal desde a sua digitalização até aos transmissores, mas esse percurso é feito pela mesma rede «que todos os dias leva milhares e milhares de chamadas telefónicas no país e durante as quais não existem oito segundos de atraso», aponta um especialista em tdt, ao sol.

fonte oficial da zon lembra, no entanto, que ao serem introduzidas etapas no percurso do sinal desde a sua emissão até à casa do cliente «mais segundos leva o processo de descodificação».

só que, em portugal, mesmo na simples passagem do sinal analógico para o digital, verifica-se um atraso muito maior, por exemplo, ao de espanha – cerca de três vezes superior. «isto é televisão em diferido, não em directo», lamenta eliseu macedo.

o sol sabe que esta questão dos atrasos é levantada há pelo menos três anos junto da anacom (autoridade nacional de comunicações) por empresas do sector, em consultas públicas. mas fonte oficial do regulador diz que, das queixas recebidas durante o euro 2012 e já analisadas, «não houve reclamações sobre delays na emissão». a anacom diz ainda que não está definido qualquer limite máximo para os atrasos das emissões em directo.

quem ouve e vê primeiro?

1.º rádio

2.º televisão analógica (canais generalistas por subscrição ou todos os canais da zon, de quem não tem box)

3.º televisão digital sem hd

4.º televisão digital com hd

5.º tecnologias de iptv (que incluem os mecanismos utilizados para se ter funcionalidades, como maior velocidade no zapping, na televisão paga)

francisca.seabra@sol.pt