Clima. As ideias mais loucas de Trump

À frente de um dos maiores poluidores do planeta está um homem que não acredita em alterações climáticas. O ceticismo de Trump passou a preocupar o mundo assim que foi eleito presidente dos EUA e agora todos tentam convencê-lo a cumprir as metas do Acordo de Paris

Para Donald Trump, não há dúvidas: o aquecimento global é uma invenção chinesa criada com o objetivo de enfraquecer a economia americana. Aquela que podia ter ficado como uma das muitas frases polémicas ditas pelo então candidato durante a campanha às presidenciais norte-americanas ganha nova força quando a mesma pessoa passa efetivamente a líder de uma das grandes potências mundiais.

Trump quer que os Estados Unidos se desvinculem do Acordo de Paris antes do fim do período de quatro anos que o país ficou obrigado a respeitar. Recorde-se que o acordo, assinado por 195 países, entrou em vigor a 4 de novembro, quatro dias antes das presidenciais norte-americanas que deram a vitória ao candidato republicano. Daí que a notícia da vitória de Trump tenha sido recebida em Marraquexe – onde decorre a Conferência do Clima COP22 – com alguma preocupação.

Não há chefe de governo ou ministro que suba ao palanque que não apele a uma mudança de posição de Trump e, na quarta-feira, os líderes de 360 grandes empresas, maioritariamente norte-americanas, enviaram uma carta ao novo presidente a pedir que este respeite o Acordo de Paris. “Apelamos aos eleitos norte-americanos para que apoiem firmemente a continuação das políticas que permitam aos EUA cumprir os seus compromissos”, lê-se no apelo, feito à margem da conferência.

China responde O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês já assegurou que a posição de Trump quanto ao Acordo de Paris “não afetará os compromissos” da China, mas apela a que o novo líder norte-americano tome uma “decisão inteligente”.

Além de culpar a China por toda uma preocupação mundial com o aquecimento global, Trump considera que esse fenómeno “é um disparate que sai muito caro”. Por isso, das polémicas da campanha passou já à ação quando anunciou, no programa “60 Minutos”, que os EUA iriam repensar o acordo, com a possibilidade de direcionar o que seria usado para financiar esses programas para a exploração de petróleo.

Mas pode trump voltar atrás? Se até há pouco tempo, o clima era de satisfação por, finalmente, os dois grandes poluidores – China e Estados Unidos – terem chegado a acordo quanto às metas a cumprir para minorar os efeitos das alterações climáticas, agora já ninguém está seguro desse futuro menos poluído.

Numa tentativa de acalmar os espíritos mais inquietos, o ainda secretário de Estado norte-americano, John Kerry, rumou a Marraquexe para garantir que os Estados Unidos estão no bom caminho para atingir os seus objetivos climáticos e “não poderão retroceder”. Apesar do otimismo, Kerry admite que a eleição de Trump deixou o mundo perante uma “incerteza quanto ao futuro”.

Já no início da COP, Ségolène Royal, ministra francesa do Ambiente, fez questão de garantir que Trump “não pode, contrariamente ao que disse, renunciar ao Acordo de Paris”. Também Patricia Espinosa, responsável da ONU para as questões do ambiente, manteve a onda positiva e afirmou esperar “cooperar com os EUA para fazer a agenda da ação climática avançar”.

No entanto, especialistas e advogados têm vindo a mostrar que Trump pode realmente reverter aquilo a que o país se tinha comprometido. Apesar de não ter poder para bloquear o cumprimento do tratado por parte de outros países ou alterar as regras do acordo, pode optar por não executar o acordo no seu país. Essa decisão punha um fim ao objetivo final de limitar o aquecimento global a um máximo de dois graus centígrados acima dos níveis pré-industriais – até porque, depois desse limite, os cientistas dizem que os efeitos das alterações climáticas provocadas pelo homem se tornam irreversíveis.

A verdade é que Trump ainda não anunciou a sua decisão final nem o modo de conseguir desvincular-se de um acordo antes do fim do período de quatro anos que o país ficou obrigado a respeitar. Mesmo assim, é possível antever que, a ser concretizada, não será uma saída fácil, mas há já quem aponte alternativas legais. Para não ter de esperar até 2020, o presidente norte-americano pode sempre usar um atalho que passa pela saída da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, que enquadra o acordo de Paris. No entanto, esta seria uma decisão polémica tendo em conta que se trata de uma convenção assinada pelo ex-presidente republicano George Bush e aprovada pelo Senado. Mas quando o tema é Trump, polémica é a palavra de ordem.