Dívida pública. Portugal lidera subida dos juros na Europa

Os juros da dívida portuguesa dispararam ontem em todas as maturidades, liderando as subidas que se estendem à generalidade dos países do euro. A yield associada às obrigações a dez anos avançou 10,3 pontos base para 3,719%, estando a subir pela terceira sessão consecutiva. No passado dia 21 de novembro, os juros superaram os 3,9%,…

Em Espanha, os juros a dez anos escalam 4 pontos base para 1,550%, enquanto em Itália a subida é de 3,7 pontos para 1,981%. Na Alemanha, pelo contrário, a yield das bunds desce 0,2 pontos para 0,220%.

Com a descida dos juros alemães, e subida dos portugueses, também o risco de Portugal – medido pelo diferencial face à dívida germânica – está mais alto esta quarta-feira. O spread avança 9,6 pontos para 345,8 pontos.

Esta evolução acontece a quatro dias do referendo em Itália, onde os eleitores serão chamados a aprovar ou rejeitar a reforma constitucional apresentada pelo governo de Matteo Renzi. A incerteza em torno do resultado da consulta popular e das suas consequências para Itália – uma economia com elevado endividamento e que já está a braços com uma crise bancária – e para a zona euro tem colocado pressão sobre os países mais vulneráveis da periferia, incluindo Portugal.

“As obrigações portuguesas estão em risco se houver uma venda em massa de obrigações italianas”, considera Ciaran O’Hagan, citado pelo “Jornal de Negócios”. O estratego do Société Générale explica que ambas as obrigações “partilham parte dos mesmos riscos, nomeadamente na perspectiva orçamental e do setor bancário”. E avisa que nem as obrigações portuguesas, nem as italianas incorporam totalmente no preço o cenário “ de um voto no ‘não’ se tornar numa situação complicada, isto é, em que a actual coligação [italiana] deixe de controlar o calendário eleitoral”. 

Ainda ontem de manhã foi confirmado pelo INE que a economia portuguesa cresceu 1,6% no terceiro trimestre, e vários organismos têm revisto em alta as estimativas de crescimento para Portugal. No entanto, deixam avisos sobre as reformas necessárias e os riscos que o país ainda enfrenta.  

“A não ser que o ritmo de reformas acelere novamente, o crescimento potencial deve permanecer limitado a um nível baixo e a economia vulnerável a choques”, alertou o Morgan Stanley esta semana, num relatório sobre a zona euro.