Lisboa Dance Festival. A menina dança? E debate?

O Lisboa Dance Festival regressa em março para uma segunda edição que quer ser menos uma festa num clube e mais um festival que vai para além da música, abrindo portas para debater a indústria da produção eletrónica em Portugal

Podia ser mais um festival. E na verdade é. Mas não é apenas mais um festival. O Lisboa Dance Festival (LDF) é um festival que quer ir para lá da música, com debates e masterclasses. E é um festival de música eletrónica que quer ir para lá da eletrónica pura e dura associada quase exclusivamente ao house e ao techno. “Isto tem de ser um festival, não pode ser um clube nem uma festa. No ano passado o mote foram os protagonistas da música internacional ao nível do house e do techno, bem como as labels de música portuguesa.

Este ano, a evolução do festival foi no sentido de abranger os 360º da música eletrónica, quer ao nível dos artistas internacionais quer ao nível dos portugueses. Ao nível internacional além de DJ e live acts, quisemos ir buscar bandas de eletrónica, lá está, porque não queremos ser apenas uma festa num clube. Queremos que a programação seja vasta e que o tom do cartaz vá enrijecendo à medida que as horas vão passando”, explicou ao i Karla Campos, CEO da Live Experiences, produtora do LDF, durante a apresentação à imprensa que decorreu ontem. Presença forte terá a música nacional, que ocupa 80% do cartaz, sendo que, nesta edição, se focará sobretudo no “afro, no global e no afro-electro”, como explicou Karla Campos.

“A música portuguesa continua a ser uma componente muito forte do festival, mas desta vez fomos buscar também géneros que estamos a produzir e que são marcas nossas que se têm internacionalizado, inicialmente graças aos Buraka Som Sistema, mas agora com a ajuda de tantos outros músicos e projetos.”

Mas o LDF quer ir para lá da música, e é justamente por esse desejo que volta a usar como lema “Music. Talks. Market”. “Sabemos que não inventámos a roda, seguimos o exemplo de outros eventos como o Amsterdam Dance Event, a Miami Winter Conference, a Red Bull Music Academy ou o Mutek Festival, que tentam ir para lá da música, organizando conversas e masterclasses, das mais diversas temáticas. Estamos a tentar encontrar uma sintonia com o que de melhor se faz lá fora”, explicou o jornalista e radialista Rui Miguel Abreu, responsável pela programação da vertente Talks do festival, que a organização sublinha como “fundamental” para a identidade deste LDF.

Para Rui Miguel Abreu, cada vez mais, quem está na pista de dança e nos concertos, braço no ar e nervoso miudinho no pé, deve saber o que está a ouvir. “Tem de fazer o trabalho de casa. Isto é, deve compreender aquilo que se está ali a passar, que não está ali alguém que se limita a tocar no play”, explica, revelando que a adesão do público não profissional da indústria da música foi uma das surpresas da edição do ano passado.

“Além disto, por detrás destas Talks há uma ideia que até é meia punk e que é o Do It Yourself. Vamos estar ali a fornecer ferramentas e a desvendar truques e mostrar como se podem fazer as coisas para que, quem esteja a assistir, perceba que também podem ser eles a fazer. Ou seja, queremos capacitar as pessoas, para que, quem sabe, no próximo ano possam fazer parte da programação do LDF. Porque a revolução, na eletrónica, pode ser feita por uma pessoa só.”

No caso dos debates, Rui Miguel Abreu quis trazer para a agenda aquilo que considera os temas têm de ser debatidos quando se fala de música eletrónica na atualidade. Temas como o papel das mulheres no universo da música eletrónica (com Isilda Sanches, Caroline Lethô, Sonja, Karla Campos e Rita Maia), o crescimento do hip hop em Portugal (com Mike El Nite, Ricardo Farinha e o próprio Rui Miguel Abreu), e a teoria de que o local é hoje em dia global (com Pedro Coquenão, KKing Kong, Luís Oliveira e Nuno Saraiva). Já as masterclasses serão dedicadas ao DJing, masterização e sampling; e o workshop programado será sobre como dominar as redes sociais, “uma ferramenta fundamental para quem faz música”.

Com 20 horas de música divididas por dois dias, esta segunda edição do LDF cresce, em termos de pessoas – são esperadas cerca de 15 mil, contra os 9 mil de 2016 –, mas também em termos de espaços. Desta vez contará com seis salas, todas no interior do LX Factory, três delas novas em relação ao ano passado: o Café na Fábrica, o hostel The Dorm e a livraria Ler Devagar – “locais inóspitos, que à partida não estão ligados à música eletrónica”, como explicou Pedro Trigueiro, da organização.

O Café na Fábrica será uma espécie de hall de entrada do LDF, que receberá o estúdio Antena 3, palco de conversas que se querem “descomprometidas” entre artistas, jornalistas e público. Logo do outro lado da rua, no hostel The Dorm, terão lugar os B2B, denominação utilizada pela música eletrónica para quando dois DJs partilham a cabina de som, enfrentando-se e desafiando-se mutuamente. É por aqui que passarão nomes Dupplo B2B Señor Pelota, Darksunn B2B Nitronious, Rita Maia B2B DJ Satelite, Riot B2B Nuno Forte, Sam The Kid B2B DJ Big e Stereossauro B2B DJ Kwan.

Mais à frente, a Ler Devagar servirá de casa ao Clube Antena 3, onde Pedro Coquenão, do projeto Batida, “irá replicar o programa que tem há três anos na rádio”, fazendo “da livraria um clube de dança”, como referiu Pedro Trigueiro. Por aqui passarão também DJ Glue, Harold, Ghost Hunt e Lince, entre outros.

Além destes três novos espaços, o LDF voltará a passar pela sala Zoot, no edifício principal da Lx Factory. Aqui, Branko e Moulinex, “nomes essenciais na atualidade da música portuguesa”, serão os curadores de serviço. Já o palco principal, ou Fábrica XL, funcionará até mais tarde que os restantes espaços – 6h – e receberá os cabeças de cartas Hercules & Love Affair, Marcel Dettmann, George FitzGerald e Mount Kimbie, entre outros. Paredes meias, na Fábrica L, decorrerão então os debates e masterclasses, e um mercado.