Richard Corbett: “Sou dos que acha que o Brexit foi um desastre”

O eurodeputado britânico Richard Corbett, trabalhista, tem uma réstia de esperança sobre a permanência do seu país na UE

Richard Corbett: “Sou dos que acha que o Brexit foi um desastre”

Diz que, enquanto houver esperança, vai “continuar a lutar” pela a permanência do Reino Unido na UE. E descreve o dia seguinte ao referendo do Brexit como terrível. “Ganharam o referendo através de um pacote de mentiras”, acusa Richard Corbett, trabalhista, para quem, mesmo assim, prognósticos só no fim do jogo.

 

Depois do referendo, alguma vez se sentiu posto de parte aqui no Parlamento?

Nem por isso. Rapidamente se percebeu que este processo iria levar algum tempo e era muito complexo. É do interesse de toda a gente que se evite que o Brexit seja uma catástrofe total. Essa reação tem sido mais direcionada para os membros do parlamento que estavam a favor do Brexit, nomeadamente alguns dos conservadores. O Parlamento Europeu acabou de ter as eleições de meio termo e três 20 comités são coordenados por membros britânicos que foram reeleitos. 

É público que é uma das pessoas que ainda acredita  que o Brexit pode ser travado.

Não sou o único. É cada vez mais notório que o Brexit vai ter custos enormes para a Grã-Bretanha e, quando o acordo do Brexit e o artigo 50 tiverem de ser aprovados na Câmara dos Comuns, poderá haver pessoas a dizer que não. Legalmente isso seria suficiente para travar o Brexit. E creio que vão dizê-lo depois de verem o que o Brexit significa realmente. 

Um segundo referendo ainda é uma hipótese?

Claro! Sou dos que acha que o Brexit será um desastre. Mas politicamente julgo que teria mesmo de haver outro referendo. Se não, durante anos e anos dir-se-ia que as pessoas votaram de uma forma e que os políticos pararam o processo. Por isso era uma decisão que teria que ser tomada novamente pelo povo.  

Concorda que retomar uma relação privilegiada com os EUA é uma espécie de utopia?

Sim, é uma utopia que está a ser difundida pela ala mais à direita dos conservadores que gostam de Trump. Acho que não é algo desejável, mas é naif de qualquer um dos modos. A ideia deles é esquecer a Europa e fazer acordos políticos e comerciais com os EUA. As trocas comerciais que fazemos com os EUA representam, neste momento, 40% das nossas transações. E a União Europeia representa 50%. Nos seus discursos, Trump está sempre a repetir “a América primeiro”. Não vai fazer nenhumas concessões ao Reino Unido.

E a ideia de uma renovada e mais forte Commonwealth?

É a mesma utopia. A nível económico é muito menos importante do que o resto da UE. A Commonwealth não tem poderes ou responsabilidades sem mercado comum. É apenas uma associação solta das ex-colónias e britânicas e outros países – por exemplo Moçambique e o Ruanda hoje são membros.

O que acha da forma como Theresa May está a lidar com o Brexit?

Terrível. Finalmente decidiu que queria um “hard Brexit” e está a tentar evitar ir ao Parlamento. Nem sequer quis propostas públicas para a negociação. Na semana passada deixou claro no seu discurso que queria ficar de fora até do mercado comum europeu. Mesmo na campanha do referendo já havia esta divisão, muitos queriam sair da EU mas ficar no mercado, um bocadinho como a Noruega. Se tivessem dito desde o início que também iriam deixar o mercado comum europeu nunca teriam ganho o referendo. 

Acredita que ainda haverá eurodeputados britânicos depois de maio de 2019?

Não se pararmos o Brexit (risos). Mas acho que May fará todos os possíveis para evitar uma nova eleição europeia, e francamente acho que o resto da Europa também preferirá despachar isto antes das eleições. Se o artigo 50 for aplicado em março deste ano, há um período de dois anos para as negociações. E se não houver acordo estamos fora de qualquer forma. Mas esse período pode ser estendido. Mas se houver um acordo, esse acordo marca a data da saída. Logicamente faria sentido que isso acontecesse entre dois, três até cinco anos. O problema é que seriam eleitos novamente eurodeputados britânicos que só estariam aqui por uns meses, o que seria estranho. Há uma forma de contornar isso por analogia com o processo de entrada de qualquer país na UE. Durante um curto período, nomeiam deputados do seu parlamento nacional, que atuam com um duplo mandato. Nesse cenário de saída, que é o oposto à entrada, essa poderia ser a solução. Ou seja, imaginemos que a saída é em 2020 e as eleições são em maio de 2019. Haveria lordes aqui sentados (risos).

Em maio abrirá em Bruxelas a Casa da História Europeia. Como gostaria de ver o RU representado nesse museu?

Bem, é possível que haja um pequeno memorial (risos). Fazemos e fizemos parte da UE durante quarenta anos, a maior parte das vezes de uma forma construtiva.

Sente-se europeu?

Sinto e também me sinto britânico e isso continua a não ser contraditório. No futebol torço pela Inglaterra, nos Jogos Olímpicos pela Grã-Bretanha e pelos os golfistas europeus nas competições mundiais (risos).