França. Entrevista com uma década atira campanha de Fillon para o caos

Penelope Fillon disse numa entrevista que nunca trabalhou para o marido, apesar do salário volumoso

François Fillon tentava ontem colar os cacos em que a sua campanha se desfez com a revelação de que a sua mulher, Penelope, deu uma entrevista em 2007 admitindo nunca ter trabalhado para o marido, dando assim força às revelações de que o candidato de centro-direita pagou à esposa qualquer coisa como 830 mil euros ao longo de mais de dez anos por um trabalho de assistente parlamentar que ela nunca desempenhou. A entrevista, nunca divulgada e desenterrada por um dos programas de investigação mais célebres em França, o “Envoyé Spécial”, estava para ser emitida ontem à noite, ainda que o programa já tivesse divulgado que, nela, Penelope Fillon admite que nunca trabalhou para o marido. Se François Fillon começou a semana a negar as acusações e a acusar a esquerda de as ter fabricado, os advogados da mulher alegavam ontem que os seus comentários estão descontextualizados, à medida que os investigadores revelavam estar a olhar também para as contas dos filhos do casal.

A campanha do homem que venceu as primárias d’Os Republicanos parece estar condenada. Fillon cai a pique nas sondagens e o seu partido pede que se retire em nome de outro candidato do centro-direita, que, até esta semana, era o grande favorito para reunir o voto europeísta e vencer Marine Le Pen na segunda volta das presidenciais. O “Penelopegate”, como é referido na imprensa, é particularmente danoso para Fillon, que faz campanha como um católico de província em linha com os valores tradicionais franceses. Fillon pediu aos barões do seu partido apoio por só mais duas semanas, o suficiente para o concluir de uma investigação preliminar. Poucos anteveem que isso vá acontecer.

Caindo a candidatura de Fillon, que prometia cortar um milhão de empregos públicos e avançar com um grande pacote de liberalização económica, quem sai mais beneficiado, para além de Le Pen, é o independente liberal Emmanuel Macron, que tem um pé em ambos os lados do espetro – nas eleições deste ano, ajuda sobretudo não ser do Partido Socialista do presidente François Hollande, que não vai à corrida – e que uma sondagem da empresa IFOP dava já empatado com Fillon, nos 20%. Ambos ficam abaixo dos 24% de Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional que, a acreditar na opinião consensual dos analistas, deve vencer a primeira volta de abril, mas perder contra a consolidação do voto moderado e europeísta em maio.