Um leão perdido no seu labirinto

Afastado da hipótese de ganhar qualquer prova no início de fevereiro, o Sporting está obrigado a olhar para dentro de si próprio.

Por muito natural que possa ter sido, a derrota do Sporting no Porto, no passado fim de semana, acabou por ser dramática. Com 14 jornadas por disputar, os leões encontram-se na incomóda situação de jogarem para… nada. Sim, sim, claro que o discurso oficial só pode entrar pelos lugares comuns de casos idênticos: um clube desta dimensão tem que jogar sempre para ganhar, o prestígio, um passado a respeitar, e tal e coiso e coiso e tal, que pode muito bem fazer sentido mas é, na verdade, mais conversa do que propriamente aquilo que técnicos e jogadores estarão a sentir.

Não há que ter medo das palavras: a época do Sporting foi um desastre. Falhanço completo em toda a linha de um plantel que custa muitos milhões e do treinador mais bem pago de sempre do futebol português. Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga dos Campeões (nem Liga Europa), campeonato nacional. E, ainda por cima, às mãos de equipas menores – Chaves, Vitória de Setúbal, Legia de Varsóvia…

A dez pontos do primeiro lugar, com Braga (tem valido aos leões a quebra estranha e quase incompreensível dos minhotos) e Vitória de Guimarães a morderem-lhe os calcanhares, o Sporting ainda nem sequer garantiu o próximo playoff da prova milionária. Há, aqui, pelo menos, um objetivo concreto. E importante. Mesmo sabendo-se como costumam ser complicados esses playoffs, ainda por cima para um clube que dificilmente será cabeça-de-série. Deixemos isso para o momento certo.

Até por tudo o que foi dito após o confronto do Dragão, a ideia que passa é que os verde-e-brancos andam perdidos nas suas contradições. O projeto não se define: entre compras caras de jogadores falhados e a utilização um bocado ad hoc dos meninos de Alcochete. Sabia Bruno Carvalho que Jesus não é propriamente um grande adepto de montar equipas em redor de elementos pouco experientes. Aliás, embora também produtos da cantera, os dois polos em que assenta o Sporting de hoje – Adrian e William Carvalho – não são propriamente umas crianças. O abismo em que a equipa caiu – ou tem vindo a cair – terá, muito provavelmente, consequências na próxima fase de aquisição. Resta saber se será dado um passo em frente, na direção de um reforço, ou um atrás, na procura de uma política menos despesista.