Lincoln City. A proeza do pequeno espírito maligno…

Desde 1914 que uma equipa dos campeonatos amadores não atingia fase tão adiantada da Taça de Inglaterra. E, hoje, os olhos viram-se para o Sutton-Arsenal à espera que o milagre se repita

1914 – foi este o ano em que o Queens Park Rangers atingiu os quartos-de-final da mítica Taça de Inglaterra (disputa-se desde a época de 1871/72). Ou seja, última equipa dos campeonatos amadores a conseguir tal proeza, igualada este fim de semana pelo Lincoln City que foi eliminar o Burnley (1-0, no minuto 89) ao terreno deste perante a surpresa geral. “Tínhamos uma hipótese em cem e conseguimos”, disse o treinador Danny Cowley, que tomou conta do posto em maio do ano passado, no final.

O grande objetivo do clube é o acesso à English Football League Two, o quarto escalão da pirâmide do futebol inglês. Para já, está no bom caminho pois lidera a National League (assim como uma espécie de 5ª divisão). Sediado em Lincoln, uma cidade de cerca de 130 mil habitantes, capital do Condado de Lincoln, nas East Midlands, o Lincoln City foi fundado em 1884 mas nunca chegou ao topo. Um quinto lugar na 3ª divisão , em 1901/02, um título de campeão na League Two (a tal 4ª divisão), em 1975/76, uma presença na quarta eliminatória da Taça da Liga, em 1967/68, e esta vitória extraordinária que trouxe o clube para as primeiras páginas dos jornais.

Até ao momento, o Lincoln City fez um percurso quase limpo: Guiseley (5ª divisão), 0-0 e 2-1; Altricham (6ª), 2-1; Oldham Athletic (3ª), 3-2; Ipswich Town (2ª), 2-2 e 1-0; Brighton (2ª), 3-1; Burnley (1ª), 1-0. Sean Ragget, defesa central, marcador do golo em Turf Moor, na sequência de um canto, tornou-se um herói: “É de loucos! Nem sabia como comemorar…” Mas não deixou de confessar o que lhe ia no íntimo: “Viemos aqui para ganhar. Era o que queríamos!”

A cara do clube não é propriamente simpática. Eu explico: é o “imp” de Lincoln, um pequeno espírito maligno representado por uma grotesca estatueta na catedral da cidade, personagem da “Lincolnshire Poacher Song”, um velho cântico medieval da região que amaldiçoa todos os que não estão dispostos a vender os seus veados. Se bem que tenha feito parte do emblema, talvez seja essa a razão porque o retiraram mais tarde. Ainda assim, os jogadores do Lincoln City respondem pela alcunha de “imps”.

Para já, o espírito maligno, por mais minúsculo que seja, já fez render uma boa maquia. Só por atingirem os quartos-de-final, os rapazes treinados por Cowley embolsaram um milhão de Libras no total – 200 mil pela última eliminatória. O jamaicano Theo Robinson é, neste momento, o segundo melhor marcador da prova com 5 golos. E, hoje, as atenções viram-se para o Sutton-Arsenal. A ver se o milagre se repete.