Artistas-professores que influenciaram alunos-artistas

O Centro de Arte Moderna lançou um ‘concurso’ para identificar os artistas-professores que mais influenciaram os seus alunos- artistas. Na exposição ‘Professores’ o grupo está exposto.

a ideia existia há muito. «mas não sabia como a pôr em prática, até que um dia se tornou claro», conta isabel carlos , directora do centro de arte moderna (cam) e comissária da exposição ‘professores’. o que faltava era encontrar um dispositivo para chegar lá. assim, pediu a um grupo de 50 artistas com idades entre os 30 e os 50 anos que indicassem os professores que os tinham marcado.

os oito mestres com mais de três referências estão agora com a sua obra representada em módulos de mini-retrospectivas no cam, até 2 de janeiro. são eles: eduardo batarda, manuel botelho, joão queiroz, pedro morais, ângela ferreira, miguel branco, álvaro lapa e rui sanches. já os ex-alunos estão presentes através da voz, em depoimentos acessíveis por auscultadores em cada um dos núcleos.

como é que um artista ensina outro a sê–lo quando a arte é uma manifestação individual? para eduardo batarda, que abre a exposição com obras suas que vão dos anos 60 à actualidade, esta é uma pergunta a que tentou dar resposta durante os seus mais de 30 anos como professor na escola superior de belas artes do porto (esbap). «os professores são pessoas que se dão ao trabalho de ir ao trabalho. estão lá. as relações entre os professores e os alunos podem não ser importantes, mas às vezes é uma coisa mínima que se disse, numa montanha de outras sem significado nenhum, que muda tudo. por exemplo: é melhor segurar o pincel assim, ou, você devia ler isto…».

e a título de exemplo da relação quase silenciosa, mas duradoura, que um professor estabelece com um aluno candidato a artista, batarda lembrou – na exposição guiada que os artistas fizeram à imprensa na inauguração, no passado dia 13 – álvaro lapa, seu colega na esbap e falecido em 2006. «o funeral dele, mais do que cheio das figuras institucionais e de coleccionadores, estava repleto de várias gerações de antigos alunos, muitos deles não passaram de artistas falhados. foi muito comovente».

rui sanches, cujo trabalho encerra a exposição, diz que «não se ensina, acompanha-se, está-se com os artistas e tenta-se ser o catalisador do trabalho das pessoas». no catálogo da exposição, dois ex-alunos, noé sendas e susanne themlitz, atestam esta postura. e a carreira deles prova que é uma estratégia vencedora. se calhar, a única.

ângela ferreira nasceu em maputo, quando a capital de moçambique se chamava lourenço marques. a sua influência como professora da escola de belas artes de lisboa chegou a joão pedro vale, que testemunha que quando vê um trabalho da antiga mestre lembra-se do momento em que ele decidiu ser artista.

mas é ela, precisamente, quem diz: «há óptimos artistas que nunca passaram por uma escola de arte. por exemplo, músicos como bob dylan ou david byrne. há também o mito das boas escolas e más escolas. mas não sei se há…». com uma obra que se baseia «na comparação de realidades diferentes», ângela liga vários mundos. o crown plaza em chicago, de mies van der rohe, entrelaçado com a dragon house, de pancho guedes, o ponta de lança de uma interpretação africana do modernismo. ou ainda, o trabalho sobre a ida a moçambique de bob dylan e a tentativa de godard, a convite do governo, de criar uma televisão para o povo «naquele momento muito importante, mas esquecido, entre a descolonização e a guerra».

o professor também ganha com os alunos. miguel branco dá aulas na ar.co, uma escola que diz ser «muito experimental, formada por pessoas que gostam de ensinar». e este professor optimista que influenciou joana vasconcelos resume: «sempre senti que a relação com o ensino tem sido uma componente importante do meu trabalho como artista».

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