EUA. De novo (e sempre) a trama russa

A trégua mediática ao novo presidente foi de pouca dura. Jeff Sessions, o seu polémico procurador-geral, pode ter mentido sob juramento.

EUA. De novo (e sempre) a trama russa

Donald Trump parece não conseguir boas marés por muito tempo. Horas depois do seu primeiro discurso ao Congresso –que se revelou também o primeiro momento unanimemente positivo na sua presidência –, a prolongada trama das ligações russas à Casa Branca voltou ao de cima. O “Washington Post” revelou na quarta-feira que o novo procurador-geral americano se encontrou por duas vezes com o embaixador russo nos Estados Unidos antes das eleições, apesar de ter sugerido o contrário sob juramento, em declarações aos congressistas. Uma das reuniões, aliás, ocorreu no apogeu da polémica da interferência eleitoral russa, quando o então senador Jeff Sessions era membro do Comité dos Serviços Armados, sim, mas também conselheiro e aliado de Donald Trump.

A notícia de quarta-feira traz novas dores de cabeça à Casa Branca e adensa ainda mais a nuvem de suspeitas que paira sobre o novo presidente quase desde que anunciou a sua candidatura. Há três semanas, o ex-conselheiro para a Segurança Nacional, Mike Flynn, foi afastado depois de virem a público provas de que conversara por telefone com o embaixador russo pouco depois das eleições, demonstrando-se que havia mentido ao vice-presidente e público americano ao dizer que não discutira a política externa antes de tomar posse – um crime na lei americana. Agora é Sessions quem está na mira.

O “Washington Post” escreve que Sessions se encontrou com o embaixador Sergey Kislyak em setembro, no seu gabinete de senador, no Congresso. Meses mais tarde, porém, nas audições para procurador-geral, Sessions negou ter-se reunido com políticos russos ao longo da campanha. O procurador-geral defende-se dizendo que a pergunta colocada dizia respeito apenas a contactos que pudessem ter acontecido entre a campanha de Trump, onde trabalhou como conselheiro, e pessoas ligadas ao Kremlin. Segundo diz a sua equipa, o encontro de setembro com o embaixador russo estava somente ligado aos trabalhos do Comité dos Serviços Armados, e que, por isso, a resposta de Sessions não é enganadora. Num primeiro momento, o procurador-geral afirmara que não se lembrava do que fora discutido no encontro e, mais tarde, disse que o tema da campanha surgiu apenas ao de leve. Isto apesar de, por aqueles dias de polémica russa, os congressistas andarem a evitar encontros com políticos russos – duas dezenas de figuras do comité contactadas pelo_“Washington Post” negaram terem-se alguma vez encontrado com russos.

Conflitos?

Alguns democratas reclamavam ontem a demissão de Sessions, dizendo que mentira sob juramento. Resultado improvável. Primeiro, porque Sessions pode estar a dizer a verdade ao afirmar que pensava estar a responder apenas como conselheiro de campanha – pesem os avanços e recuos. Depois, porque a sua demissão seria a segunda entre altos-cargos em menos de um mês – e menos de dois meses de governo. Mas Sessions e a Casa Branca não sairão ilesos. O procurador-geral tem a tutela do FBI e do Departamento de_Justiça, que por estes dias investigam se existiu ou não conluio entre a campanha de_Trump e as operações de sabotagem do Kremlin. Há semanas que democratas e críticos exigem que Sessions se retire da investigação, alegando conflitos de interesse. Poucos republicanos o defenderam, mas, ontem, três importantes congressistas conservadores saltaram para o lado democrata.