O mundo de Graça Morais num ‘espaço fabuloso’

Primeira exposição de arte na Fundação Champalimaud é consagrada à pintora nascida em Trás-os-Montes.

São um pouco menos de cem pinturas que atravessam quatro décadas. «Tem tudo o que eu gostaria que tivesse», diz Graça Morais sobre a exposição Ressonâncias: Da Voz e dos Ecos, patente até 25 de abril na Fundação Champalimaud, no passeio marítimo de Algés. A mostra nasceu de uma conversa entre José Pedro Paço d’Arcos, o maior colecionador de obras de Graça Morais, e João Silveira Botelho, vogal do conselho de administração da Fundação. «Chegaram a pensar fazer ali uma exposição da coleção da Peggy Guggenheim, de Veneza, mas depois a coisa caiu», conta Paço d’Arcos. «Então sugeri fazer esta exposição da Graça Morais e o João Silveira Botelho achou graça. É uma forma de dar uso àquele espaço fabuloso».

Cerca de dois terços das obras expostas pertencem à fundação Paço d’Arcos; outras, mais recentes, foram reveladas no ano passado na galeria Ratton (a série Os Rostos do Medo); outras ainda vieram diretamente do ateliê da pintora para a Fundação Champalimaud. Estas últimas, diz Graça Morais, pertencem a uma série «que se poderia chamar ‘O mundo à minha volta’. Tem a ver com uma certa apreensão em relação ao que se está a viver nos Estados Unidos, com a eleição de Trump, e na Europa».

A artista chama, aliás, a atenção para as duas maiores telas da mostra, terminadas em janeiro. O título, não por acaso, é 20 de janeiro e 27 de janeiro, «o dia em que Trump decretou uma lei [anti-imigração] que felizmente foi anulada, mas se fosse para a frente era terrível para a humanidade».

‘Há uma miúda nova em Lisboa’

José Pedro Paço d’Arcos descobriu a obra de Graça Morais na década de 80. «Fui advogado do Banco Mundial e nessa altura quis fazer uma exposição de cinco artistas portugueses no FMI», recorda o colecionador. «Primeiro fui a Paris convidar o Pomar e o Eduardo Luiz. Depois fui a Londres para convidar a Paula Rego. Quando estávamos a almoçar, ela diz-me: ‘Há uma miúda nova em Lisboa que é muito boa, vai ser um grande nome’. Era a Graça Morais. Então vim a Lisboa e fui ao estúdio dela, na Rua de S. Paulo, um quarto andar, e apaixonei-me logo pela pintura. Desde então tenho comprado vários quadros».

Possuindo cerca de uma centena de obras, Paço d’Arcos não tem espaço para todas em sua casa, de modo que algumas estão emprestadas a ministérios. Mas há uma pintura de que não se separa, a não ser em ocasiões especiais como a presente exposição: Interdito Transfigurado, de 1987. «Foi o primeiro quadro que comprei naquela primeira ida ao estúdio da Graça. Havia outra pessoa que já o tinha em vista, por isso tive de lutar por ele». A pintura, que o advogado compara a um «filho mais velho», é uma das que podem ser vistas em Algés. Ressonâncias: Da Voz e dos Ecos está aberta diariamente das 14h às 19h e das 10h às 19h aos domingos. A entrada é livre.