EUA. Alternativa ao Obamacare enfrenta resistência interna

Ala moderada do Partido Republicano entende que a proposta de lei da administração Trump deveria ter ido mais longe. Debate já começou no Congresso

Há pelo menos sete anos que o Partido Republicano se bate pela abolição do plano de saúde concebido e executado pela anterior administração, um desejo que começou finalmente a ganhar forma na passada quarta-feira. Mas o início das discussões plenárias com vista à substituição do Obamacare pelo novo “American Health Care Act (AHCA)”, nas duas comissões do Congresso norte-americano responsáveis, está longe de corresponder às enormes expetativas criadas durante os largos anos da presidência de Barack Obama. É que, para além da já esperada resistência democrata à nova legislação – o partido da oposição teme pelo efeito negativo da mesma sobre “os mais vulneráveis” –, acresce a desconfiança levantada por alguns membros da ala mais moderada do próprio GOP, insatisfeitos com a alternativa apresentada pela maioria republicana na Câmara dos Representantes.

Paul Ryan já tinha garantido na terça-feira que iria conseguir os 218 votos necessários para a aprovação da proposta na câmara baixa do Congresso dos EUA, mas face às manifestações públicas de desagrado de figuras importantes do partido, como Rand Paul ou Mark Meadows, o speaker republicano veio a terreiro para tentar esclarecer o porquê de todo o burburinho criado, numa conferência de imprensa realizada ontem no Capitólio. “Estamos a atravessar as inevitáveis ‘dores de crescimento’, por termos passado de um partido de oposição para um partido de governo. É uma nova sensação”, justificou Ryan, citado pelo “Washington Post”, antes de reforçar a confiança demonstrada no dia anterior: “Esta é uma empolgante e monumental reforma conservadora. É aquela com que temos vindo a sonhar.”

As garantias de Ryan estão, ainda assim, longe de garantir o entusiasmo geral dentro do Partido Republicano. Entre o GOP há quem duvide que o AHCA seja adequado para a tão propalada “clean repeal [revogação limpa]” do Obamacare. “Não me parece que [o novo plano] irá reduzir o custo do seguro de saúde”, confessou Jim Jordan, congressista eleito pelo estado do Ohio, em declarações à Fox News.

Consciente de que o AHCA poderia não reunir o apoio de todos os republicanos, a administração Trump iniciou, logo na terça-feira, uma operação de charme junto dos mais desconfiados. “Todos os conservadores que se opuseram publicamente foram contactados pela Casa Branca”, contou o senador Rand Paul no programa “Morning Joe”, da MSNBC. Os republicanos apenas poderão abdicar de 21 votos na Câmara dos Representantes se quiserem ver o AHCA aprovado e Paul acredita que esse limite está longe de estar garantido. “Não acredito que eles [apoiantes da proposta] tenham os números necessários para a aprovação. Se nos mantivermos juntos, conseguiremos (…) negociar”, afiançou o senador eleito pelo Kentucky.

Quem também se juntou à operação de charme foi Donald Trump que, através de uma mensagem publicada no Twitter, disse estar confiante em mudar a posição de Paul. “Tenho a certeza de que o meu amigo @RandPaul irá colaborar com o novo e ótimo programa de saúde, uma vez que ele sabe que o Obamacare é um desastre!”, escreveu o presidente dos EUA.

Uma das principais críticas oriundas de ambas as alas do Congresso, e também de diversos grupos de lobbying da área da saúde, tem que ver com a inexistência de uma estimativa sobre o custo do “Trumpcare”, uma situação que Paul Ryan considera ser “muito comum” em fases tão precoces do processo legislativo.