A acusação a Sócrates, no âmbito da Operação Marquês, nunca estará fechada antes de meados de abril. O i sabe que os procuradores não vão conseguir concluir a acusação dentro do prazo estipulado por Joana Marques Vidal, que seria a 17 de março, a próxima sexta-feira.
Os investigadores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) vão precisar de mais tempo para analisar os factos que irão apurar durante os próximos dias, depois de interrogarem novamente as testemunhas e arguidos do processo.
É que os investigadores vão usar um dos grandes trunfos do Ministério Público: confrontar os arguidos com novos documentos que foram apreendidos em julho de 2016 durante buscas à Portugal Telecom (PT) e a alguns dos seus administradores.
Nestes documentos estão referidas todas as pessoas que alegadamente receberam luvas dos 96 milhões de euros dos negócios da PT, nomeadamente José Sócrates, e o mandante para a distribuição desse dinheiro, que será Ricardo Salgado.
Os arguidos vão agora ser confrontados pela primeira vez com estes documentos que estão na posse dos inspetores, o que pode resultar em novos dados para o processo.
O i sabe ainda que, além do ex-primeiro-ministro José Sócrates (que é hoje interrogado) e de Joaquim Barroca, fundador do Grupo Lena, que será ouvido na próxima quinta-feira – para ser confrontado com documentos que revelam o alegado pagamento de 2,8 milhões de euros do Grupo Lena a Sócrates –, também Ricardo Salgado vai ser interrogado durante este segundo round de audição das testemunhas e arguidos.
Após a realização de todas as audições em que os arguidos serão confrontados com as novas provas, os procuradores vão precisar de mais um mês para ultimar a acusação.
Outros das razões que levam ao adiamento da acusação para abril foi o travão de Henrique Granadeiro ao acesso de uma conta bancária que tem na Suíça. O antigo chairman da PT tentou impedir que as autoridades helvéticas entregassem ao Ministério Público português a identificação de uma sua conta bancária no banco Pictet, com sede em Genebra, onde alegadamente recebeu um total de 24 milhões de euros com origem no Grupo Espírito Santo.
A recusa de Granadeiro, no final do verão passado, atrasou os trabalhos da Operação Marquês e a constituição do antigo chairman da PT como arguido no processo. O que acabou por acontecer a 24 de fevereiro deste ano, apesar de a carta rogatória de resposta ao pedido das autoridades portuguesas ainda não ter chegado da Suíça.
Até ao momento, a Operação Marquês conta com 25 arguidos, dos quais 19 são pessoas e seis são empresas (quatro do Grupo Lena).
O ex-primeiro-ministro e antigo líder do PS está indiciado pelos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Além de Granadeiro, Sócrates, Ricardo Salgado e Joaquim Barroca, entre os arguidos estão ainda Armando Vara, ex–administrador da Caixa Geral de Depósitos e antigo ministro socialista, Carlos Santos Silva, empresário e amigo de Sócrates, João Perna, antigo motorista de Sócrates, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Zeinal Bava, ex-administrador da PT, e o empresário luso-angolano Hélder Bataglia, entre outros.
A falta de tempo dos investigadores para fechar a acusação da Operação Marquês deverá impedir que José Dirceu, homem forte de Lula da Silva, seja constituído arguido neste processo, apesar dos fortes indícios de que recebeu 1,2 milhões de euros do Grupo Espírito Santo.