Portugueses na intimidade. Tímidos, conservadores, conformados…mas curiosos

Há traços de personalidade difíceis de mudar e nem no sexo os portugueses conseguem fugir ao conservadorismo que os caracteriza. No entanto, um novo estudo mostra que não falta curiosidade para experimentar coisas novas. Agora é passar da teoria à prática

“Como é que está. D. Maria?”, pergunta–se como quem diz bom dia. “Vai-se andando”, responde, como quem diz “bom dia para si também”. É nesta lengalenga do “nunca pior” que Portugal vai levando os dias, num conformismo de achar que o que se tem é suficiente e na procura incessante de histórias piores que as suas. Só assim sabemos que, lá está, “nunca pior”.

Como o dia-a-dia não se mete em gavetas ou caixas com divisórias, este conformismo não se fica pelo “bom dia” dito em voz baixa nem pela cusquice de querer saber quem está pior. Este conformismo chega ao trabalho, às relações com amigos, com namorados e, inevitavelmente, à cama.

É por isso que à percentagem que dá conta de que a maioria dos portugueses se assumem satisfeitos com a sua vida sexual, Vânia Beliz responde com pouco entusiasmo. “O ‘vai-se andando’ tão português faz com que nos tornemos conformistas até na cama”, explica a sexóloga. Esta é uma característica mais evidente nas mulheres, até pelo número de relações sexuais que consideram ser satisfatório. “É sempre muito mais baixo que os homens, que valorizam imenso os números, enquanto as mulheres dão mais importância a outros momentos de intimidade”, como uma surpresa, um elogio ou um momento em que sintam que são alvo de carinho e preocupação por parte dos companheiros.

Ainda estamos na primeira consideração de um novo estudo sobre a intimidade dos portugueses e o cenário já não se apresenta como o ideal. Mas continuemos, até porque os autores, neste caso a OhLaLa – uma nova marca de produtos eróticos –, não trazem só más notícias.

Moralistas mas curiosos

Antes de se lançar no mercado, a OhLaLa quis saber com que tipo de público podia contar. Para isso fez um estudo onde pôs em análise a intimidade dos portugueses. Ainda a apalpar terreno e perante a inevitabilidade de ter de fazer um inquérito anónimo – ”caso contrário, não conseguíamos ter respostas sinceras”, garante José Borralho, o fundador, – a primeira pergunta da OhLaLa foi sobre as preocupações morais de cada um, consideradas muito importantes para 75% dos inquiridos.

Continuamos nas percentagens altas quando se fala na importância do sexo para a vida dos portugueses: 72% concordam com a ideia de que o sexo é essencial para uma vida feliz. Além disso, ainda temos uma boa amostra de românticos, com 29% dos inquiridos a garantirem que só fazem sexo com amor e 35% a considerarem que o sexo é melhor com amor.

Os números voltam a ser pouco animadores quando chegamos ao ponto em que apenas 57% admitem ter uma vida sexual satisfatória. O ponto positivo chega com o número que se segue: 71% mostram-se abertos a experimentar coisas novas.

Brinquedos sexuais

José Borralho decidiu pegar nesta curiosidade dos portugueses e usá-la como janela para lançar a sua marca, até porque falamos de produtos que pedem que o conservadorismo seja posto de lado. Senão vejamos.

O site da OhLaLa está dividido por secções. Na “farmácia” podem encontrar- -se cremes, loções, preservativos, lubrificantes e retardantes da ejaculação. No “soft bondage” há algemas, chicotes, mordaças, máscaras e vendas. Já na secção “fun stuff” há espaço para jogos de tabuleiro, dados com mensagens, jogos de cartas e pacotes de massa em forma de pénis. Por fim, no “para nós”, a escolha pode recair em anéis e extensores para o pénis, strap-on e vibradores.

O facto de os vibradores estarem numa secção destinada a casais vai ao encontro da mensagem que a sexóloga Vânia Beliz faz questão de passar a todos os seus pacientes. “Estes brinquedos só vêm complementar a intimidade, temos de deixar de olhar para eles como algo que vem como substituição do sexo”, explica, lembrando a ideia preconcebida pelos homens de que os vibradores servem apenas para mulheres sem namorado ou, pior, “que se usa vibrador é porque eu não lhe chego”. Além disso, a especialista lembra que há brinquedos como, neste caso, os vibradores, que podem até ter um feito terapêutico. “Aconselho o seu uso a mulheres que têm dores durante a penetração, ou no pós-gravidez e até mesmo na menopausa, ou seja, nas alturas em que é preciso reforçar essa musculatura”, lembra.

Sexo com charme

José Borralho assumiu uma missão: tornar a indústria dos brinquedos sexuais atrativa. “Sempre que abrimos um site desses quase que o fazemos com vergonha, tal é a forma degradante e grotesca como as coisas são apresentadas”, refere. Além disso, um dos três sócios da OhLaLa acredita que, se o sexo ainda continua a ser um tema tabu, “imagine-se os brinquedos sexuais”.

Talvez por isso este site esteja longe do imaginário comum da indústria de venda de brinquedos sexuais. O fundo é branco, não existem nus integrais nem imagens obscenas. Há até espaço para colunas de opinião, consultórios do amor e dicas para um fim de semana romântico. “Os preliminares não acontecem só na cama”, lembra, “é preciso trabalhar o sexo em toda a sua dimensão.”