Como é viver com as fobias mais estranhas (e como se curam)

As histórias de André, Rita, Mónica e Ana mostram como simples objetos ou meras situações do dia-a-dia podem deixar alguém em pânico

Algumas pessoas não conseguem estar em espaços fechados, outras recusam-se a estar em andares muito altos e ainda existem aquelas que não suportam ruídos muito agudos. Todos conhecemos alguém com uma fobia, mas existem muitas para além das mais comuns. Medo de tomar banho, de ser tocado, de ficar solteiro ou de se apaixonar são algumas das fobias mais peculiares que se podem encontrar. Pode parecer disparatado, mas é um verdadeiro problema para quem sofre no dia–a-dia os constrangimentos provocados por estes medos.

Desde pequeno que André sente um desconforto com umbigos. Aliás, com o toque no umbigo – cada vez que imagina ou vê uma pessoa a tocar nesta parte do corpo sente um desconforto enorme. “Se tocassem no meu umbigo, acho que morria”, disse ao i. Este homem, jornalista de profissão, não se lembra de um episódio que tenha espoletado esta fobia, mas confessa que até tem pesadelos com o problema: “Já sonhei várias vezes que estava amarrado a uma cama e alguém me tocava insistentemente no umbigo. Acordo a meio da noite, tal como acontece quando temos um pesadelo.”

Apesar de tentar evitar a todo o custo pensar em umbigos, o dia-a-dia de André acaba por ser condicionado por este problema – quando está na rua, ou ao lado de alguém, começa a pensar no que aconteceria se alguém quisesse tocar no seu umbigo. “Levo as mãos à barriga para tapar e proteger o umbigo para que ninguém lhe toque, mesmo que involuntariamente. Às vezes é uma espécie de paranoia, sei que ninguém me iria tocar no umbigo, mas acabo por desconfiar de toda a gente”, confessou ao i.

André não conhece ninguém que tenha o mesmo problema que ele e costuma recorrer à internet para ler testemunhos de outras pessoas que têm esta fobia. Quando está com familiares e amigos tenta evitar o assunto. Não por vergonha, mas para nem sequer pensar nele: “Além disso, acho que quanto menos pessoas souberem melhor, porque há menos probabilidade de me quererem tocar por brincadeira ou graça. Quando as pessoas acabam por saber, riem-se da situação, fazem perguntas e, invariavelmente, acabam a mostrar–me fotografias ou a tocar nos seus umbigos para verem a minha reação. Mas é normal, se fosse ao contrário, provavelmente teria a mesma reação…”

Rita (nome fictício) também não gosta de falar com as pessoas sobre o seu problema mas, no seu caso, existe mesmo uma vergonha de revelar o tormento que passou quando era mais nova. “Estive anos sem sequer contar em casa porque achava que era um ET. Isso afetou muito a minha autoestima. As pessoas que sabem reagem com alguma estranheza, mas foi fundamental o apoio da minha mãe que, desde que soube, percebeu que era algo incapacitante e que causava muito sofrimento. Por isso fui logo acompanhada por uma psicóloga experiente”, revelou ao i.

Esta mulher, hoje em dia mãe de duas crianças, tinha apenas 11 anos quando o problema surgiu. “Estava numa aula bastante aflita para ir à casa de banho fazer xixi. Como qualquer criança, andava sempre até à última… Pedi à professora, que disse que só podia ir no intervalo. Faltava meia hora para acabar a aula. Nesses 30 minutos entrei em pânico porque achei que não iria aguentar e fiquei obcecada com a ideia da humilhação que seria, à frente da turma, uma situação de descontrolo”, recorda. A partir desse dia, Rita passou a ir à casa de banho em todos os intervalos das aulas, mas mesmo quando estava na sala ficava com medo de passar por uma situação de descontrolo à frente dos colegas. 

Começou a ter ataques de pânico quando estava em locais onde não havia uma casa de banho, apanhava autocarros e saía várias paragens antes do destino final por não conseguir fazer toda a viagem sem ir a um café à casa de banho, estudava para os testes mas só respondias a duas ou três perguntas para poder sair da sala, só ia a espetáculos em que pudesse ficar perto da saída do recinto. Foram muitos os episódios que ficaram marcados por esta fobia. “Numa visita a uma comunidade amish [numa viagem aos EUA] estava em pânico a perguntar se havia casa de banho. Disseram que sim, mas era uma latrina imunda repugnante. Um buraco no chão. Mas eu usei-a na mesma…”, confessa.

Rita acabou por entrar em depressão. Só se sentia bem em sítios onde sabia que podia usar a casa de banho. O ideal era ficar em casa. Quatro anos depois do primeiro episódio, percebeu que vivia com uma fobia graças a um programa na televisão sobre o assunto. “Fiz terapia cognitivo-comportamental muitos anos. No início fui medicada e tomava ansiolíticos para conseguir fazer exames ou estar nestas situações. Depois, com exercícios comportamentais, fui deixando a medicação até que consegui controlar o problema, e hoje não tenho essa fobia”, contou ao i.

Pequenas vitórias

Os casos de superação como o de Rita parecem ser raros. Mónica era mais velha quando se apercebeu que tinha fobia de anões. “Tinha os meus 20 anos quando fui à Expo tomar um café numa esplanada, aproximei-me do quiosque e vi um anão muito atarefado, de banquinho na mão, a alternar entre a máquina do café e o balcão. Paralisei”, recorda.

Mónica diz que esta fobia não afeta o seu dia-a-dia, mas já passou por situações que a deixaram muito desconfortável: “Há uns anos, um anão tocou-me e foi horrível. Aconteceu num espaço noturno, eu estava sentada e deu para disfarçar o facto de ter ficado lívida e petrificada, mas ele agarrou na cerveja que estava em cima da mesa. Foi nesse momento, ao esticar o braço por cima do meu ombro, que o contacto aconteceu”, contou ao i.

Também há quem tenha medo de algo que, para a maioria das pessoas, é uma fonte de bem-estar e prazer… Como a fruta. Ana adora natureza e agricultura, mas não consegue comer fruta ou ver outras pessoas a degustar morangos, manga, melão, meloa, o que seja. “Eu não fujo se vir fruta, mas há toda uma repulsa com as texturas, os cheiros, não sei explicar. Não é como não gostar de iscas, que também não gosto do cheiro, da textura nem do sabor. Há ali mesmo um transtorno provocado pela fruta. Faz-me muita confusão até ver outras pessoas a comê-la. Até imaginá-la me deixa transtornada”, explicou.

Para além de, hoje em dia, não beber sumos de fruta nem comer sobremesas com fruta ou iogurtes, Ana teme que este problema possa vir a prejudicá-la no futuro: “Já dei por mim a imaginar que um dia vou ser mãe e vou querer, naturalmente, que os meus filhos comam fruta, mas sei que vai ser impossível descascar ou preparar-lhes essa parte da refeição. Espero que tenham um pai com paciência para isso”, disse ao i, em tom de brincadeira.

 Rita teve a sorte de ter ajuda de profissionais que a compreendessem, André e Mónica nunca procuraram aconselhamento psicológico, mas Ana tentou e não teve a resposta que esperava: falou com um psicólogo que desvalorizou a sua situação. Contou com o apoio dos pais que, aos poucos, começaram a apresentá-la a estas texturas e sabores, e tem vindo a conquistar pequenas vitórias: “Se for a minha mãe a preparar morangos ou ananás, já consigo comer um pedacinho de cada, mas com muita dificuldade.”

Outras fobias:

Ablutofobia

Medo de tomar banho

Aeronausifobia

Medo de vomitar

Aletrorofobia

Medo de galinhas

Botanofobia

Medo de plantas

Catagelofobia

Medo do ridículo

Catoptrofobia

Medo do espelho

Dipsofobia

Medo de beber

Ergofobia

Medo do trabalho

Fagofobia 

Medo de engolir ou de comer

Fobofobia 

Medo de fobias

Gimnofobia 

Medo da nudez

Hedonofobia 

Medo de sentir prazer

Hidrofobia

Medo da água

Iatrofobia

Medo de ir ao médico

Lachanophobia

Medo de vegetais

Lissofobia

Medo de ficar louco

Melanofobia

Medo da cor preta

Ninfofobia 

Medo do sexo

Ostraconofobia 

Medo das ostras

Penterofobia 

Medo da sogra

Quionofobia 

Medo de ficar louco

Melanofobia

Medo da neve

Selenofobia 

Medo da lua

Telefonofobia

Medo de telefones

Zoofobia

Medo de animais