FMI. Dívidas e incerteza política pressionam contas públicas

O setor bancário, em especial o problema do crédito malparado, é um problema acrescido para as economias dos países da zona euro

O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que as contas públicas estão sob ameaça das dívidas das empresas e das famílias e da incerteza política. Também o setor bancário, em especial o crédito malparado, é um problema acrescido para as economias europeias.

Num relatório com as previsões orçamentais para vários países do mundo divulgado ontem, o FMI alerta para que as contas públicas “continuam vulneráveis a um número alargado de riscos”.

Entre estes, o “Fiscal Monitor” destaca a dívida das empresas não financeiras e das famílias e a incerteza política nos EUA e em alguns países da zona euro.

“A dívida global do setor não financeiro está no nível mais elevado de sempre, dois terços dos quais consistem em responsabilidades do setor privado”, lê-se no documento da responsabilidade do antigo ministro das Finanças Vítor Gaspar.

De acordo com o relatório com a assinatura do ex-ministro do governo de Pedro Passos Coelho e agora diretor do FMI, “atualmente, a principal fonte de incerteza é a falta de especificidade sobre o futuro das políticas dos EUA, incluindo o tamanho e composição dos estímulos orçamentais”.

Além disso, na zona euro há eleições – França, Alemanha e Itália – “que podem redefinir a política orçamental”.

A instituição com sede em Washington destaca que esta incerteza na política orçamental cria “riscos consideráveis” para as contas públicas, “o que sublinha a importância de os países desenvolverem uma melhor compreensão da sua exposição orçamental”.

Banca europeia em risco Parte desta exposição está relacionada com a banca, em especial a europeia. Num outro relatório divulgado ontem, o FMI aponta que os “riscos políticos”, aos quais acrescenta a “elevada dívida pública”, aumentam a pressão “sobre o setor bancário”.

O “Global Financial Stability Report” (GFSR) considera que os juros exigidos aos bancos estão relacionados com o risco soberano do país em que operam. Assim, é provável que aumentem os custos de financiamento das instituições financeiras, ao mesmo tempo que baixe a quantidade de ativos que podem ser usados como garantia.

A instituição liderada por Christine Lagarde acrescenta que os bancos continuam a deter uma “significativa quantidade” de dívida pública em balanço, o que pode levar a perdas.

Outro problema do setor bancário europeu salientado pelo FMI é o crédito malparado. “Pode demorar quase seis anos, em média, para os países da zona euro resolverem o fardo dos ativos tóxicos”, lê-se no GFSR.

O fundo explica que, para os bancos regressarem “à rentabilidade e financiarem de forma bem-sucedida o crescimento económico, devem limpar os balanços” através de “aumentos de capital, provisões para o malparado e para as imparidades”, vendendo estes empréstimos em incumprimento.

Portugal é apontado pelo FMI como um dos casos mais problemáticos. O malparado representa quase 20% dos créditos.