Amãezónia. “Ser mãe é uma verdadeira lotaria. Nunca sabes o que te pode calhar”

A Diana é mãe da Amália e a Rita é mãe da Maria Rita. Adoram as filhas mais do que tudo na vida, mas avisam: estar grávida não é fixe e ser mãe, às vezes, também não é

Amãezónia. “Ser mãe é uma verdadeira lotaria. Nunca sabes o que te pode calhar”

Influenciadas pelas vozes de mães que parecem esquecer as coisas más como que por magia, Diana Garrido e Rita Pereira engravidaram com a esperança de terem nove meses de estado de graça, uma licença de maternidade com tempo para ler e ver séries e uns meses de um come-e-dorme ritmado. “Não foi nada assim”, esclarece Diana, que engordou quase 30 quilos na gravidez, odiou amamentar e não se inibe de dar o telemóvel para as mãos da Amália só para ter um jantar descansado num restaurante. Já na rifa de Rita calhou uma Maria Rita que só agora, aos quatro anos, é que começou a dormir.

Nenhuma delas estava preparada para a dura realidade e, de maneira que mais nenhuma mãe caia nesta esparrela, juntaram–se para criar o Amãezónia, onde desmistificam o conceito de maternidade perfeita. Depois do blogue, que teve já quase 500 mil visualizações, as histórias estão agora em livro, que talvez passe a ser tão essencial nos enxovais de bebé como as controversas – mas mágicas – gotas cor-de-rosa para as cólicas.

Sentiram-se enganadas quando foram mães?

Diana: Eu senti-me enganada logo na gravidez. A minha mãe disse-me que era incrível e não foi. 

Rita: Não digo enganada, mas surpreendida. Perguntava-me como é que não tinha percebido que ia ser tão complicado. Choquei de frente com a realidade.

Então vamos acabar com esta corrente de mães enganadas. Estar grávida é fixe?

Diana: Depende das pessoas, mas para mim não foi. Engordei muito e irritavam-me as limitações de alimentação e de comportamento. 

Rita: Não foi horrível, mas não poder beber café, comer um chocolate, beber um copo de vinho é chato. 

Mas deixar de estar grávida não é, por si, um alívio.

Diana: Não, porque aí tens a criança (risos). Vi demasiados filmes e, por isso, tinha uma imagem romântica da licença de maternidade. O bebé perfeito, sempre feliz, tudo calmo, com tempo para ler, ver televisão. Não é bem assim. O bebé chora que se desunha.

Rita: Tu choras.

Diana: Sim, tu choras.

Rita: Eu comecei a chorar logo na maternidade. Ela não parava de chorar, não conseguia controlar e entrei em desespero.

O que se faz quando, depois de tudo, eles não param de chorar?

Diana: Continuas a tentar, ele há de calar-se.

Rita: Ou passas ao pai.

Conseguiam gerir os conselhos que toda a gente adora dar?

Rita: Sim, mas isso é porque nós também nos queixamos. 

Diana: Eu experimentava tudo o que me diziam.

Alguma coisa funcionou?

Diana: Sim. Pô-la numa banheira de água quente ajudava a parar as cólicas e embrulhá-la num pano em frente a uma parede branca ajudava a acalmá-la.

Rita: O meu caso foi mais violento. A Maria Rita chorou todos os dias até, pelo menos, aos seis meses.

Diana: Ser mãe é uma verdadeira lotaria. Nunca sabes o que te pode calhar.

E na hora de deixar de amamentar, os conselhos passam a críticas?

Diana: No curso de preparação para o parto, nem sequer é posta em causa outra opção que não a amamentação. Eu tinha essa vontade, até porque toda a gente dizia que era maravilhoso. Mentira, não é maravilhoso. Sentia-me limitada por ser a única pessoa que podia valer à minha filha quando ela tinha fome, ela adormecia a mamar, não comia o que devia. Acabei por desistir, mas completamente arrasada pela culpa.

Mas uma culpa autoimposta?

Diana: Sim, ninguém criticou a minha decisão.

A Rita é vegetariana e a Maria Rita também. Isso é algo fácil de aceitar no mundo da maternidade?

Rita: Enquanto grávida, o meu obstetra não gostava que eu não comesse carne, mas no centro de saúde onde éramos acompanhados não puseram problemas. Na creche, a minha filha levava a sua própria comida, mas na escola atual já existem opções vegetarianas.

Diana: E é a prova de que ser vegetariano é bom. A filha da Rita nunca está doente, ao contrário da minha.

Rita: Pode ser sorte, não sei. É um mistério.

Ainda sobre a alimentação, aposto que eram daquelas que diziam que nunca iam pôr os filhos a comer em frente a um tablet. Já o fizeram?

Diana: Eu acho que nunca disse, porque desde miúda que vejo bué televisão e atualmente sou uma pessoa normal. Nos restaurantes, uso sempre, até porque para eles é uma seca. 

Rita: A Maria Rita acorda uma hora antes de mim e fica a ver televisão até eu acordar. Não consigo controlar isso.

Ser mãe é um “nunca digas nunca”?

Rita: Definitivamente.

Diana: Não cuspas para o ar que vai sempre cair-te em cima, sempre. 

Rita: Eu também dizia que o meu filho não ia comer doces.

Diana: Sim, e que açúcar só depois dos três anos. Claro, porque até lá está dentro de uma bolha.

Rita: Além de que eles não saem como tu idealizas, têm personalidade.

Diana: Sim, há uma altura em que percebes que eles não são bem como tu imaginavas. São pessoas, não são continuações tuas.

Há uma parte do livro em que dividem as crianças em cinco tipos: os vampiros, os choramingas, os terroristas, os zangados e os contentes. Em que categoria se inserem as vossas?

Rita: A minha é vampira, aquela que faz tudo para chamar a atenção.

Diana: Tem dias e momentos. Por exemplo, se eu estiver ao telefone ou ao computador, é totalmente vampira. Só não me atira com uma cadeira para eu lhe dar atenção porque não consegue.

Qual foi o motivo de birra do qual ainda hoje se riem?

Diana: A minha tem birras momentâneas que nem ela sabe porquê. No outro dia amuou e dizia que era por alguma coisa que lhe tinham dito na escola. Mas era sábado. 

Como reagem a esses momentos de birra?

Diana: Eu costumo filmar, quando é em casa. Ela adora ver.

Rita: A Maria Rita detesta. Tirei uma vez uma foto a uma birra dela, quando lhe mostrei ela ia explodindo de raiva. Sentiu-se super-humilhada. Mas como ela faz birras quase todos os dias, eu aprendi a fazer chantagem, outro ótimo recurso.

De que género?

Rita: “Se fores tomar banho, podes pintar as unhas a seguir.” É feio, eu sei, mas quando estás cansada é uma arma muito poderosa.

Ter o blogue ajudou a perceber que não estavam sozinhas?

Diana: Percebemos que havia muita gente a pensar o mesmo, mas ninguém falava sobre isso.

E críticas ao vosso lado sarcástico, já receberam?

Diana: Também, mas esses comentários não aprovamos. Lamento, mas o site não é uma democracia.

Rita: Chamaram-nos feminazis e tivemos homens a mandarem–nos a calar.

As duas tiveram meninas. O complexo de Édipo existe mesmo? 

Rita: No meu caso, sim, o pai é o super-herói do universo, eu sou a pessoa que cuido dela.

Não é injusto?

Rita: Sinto isso, sim, mas acaba por ser bom. Como ela precisa tanto do pai, ele acaba por participar imenso na educação dela.

Diana: Como deve ser, aliás.

Rita: Se fosse tudo mãe, era muito mais pesado para mim.

Diana: No meu caso, não, a minha filha adora-me. Eu sou a pessoa mais incrível do mundo.

Vocês são mães de All Star, tatuagens, que bebem e saem à noite. Era isso que imaginavam ser?

Diana: Já não saio à noite, dá-me sono cedo. (risos) Mas sim, era assim que imaginava, se calhar porque tenho 37 anos, mas não o sinto.

Mas independentemente da geração, as preocupações de mãe são as mesmas?

Diana: Ser mãe é andar sempre com medo, não podes é viver em função desse medo. Só se enfiares a criança numa caixa para ela não sair. Mas a partir do momento em que és mãe, deixas de ser descontraída. E fica para sempre.

Então a tendência é para piorar.

Rita: Claro. E quando começarem a sair à noite?

Diana: Pois, é que tu lembras-te das asneiras que fizeste e não queres que eles façam igual.

Rita: Sabes aquela música que diz “minha mãe não dorme enquanto eu não chegar”? Eu vou ser essa mãe.

Qual foi o melhor conselho que ouviram?

Rita: Faz aquilo que achas que deves fazer e ignora o resto. É um ideal bastante presente na minha vida.

Diana. Se tu estiveres bem, a tua filha está bem.

Preparadas para o round 2?

Diana: Não, porém haverá. Eu quero que a Amália tenha um irmão. Eu tenho e é maravilhoso.

Rita: No meu caso, só poderia ter um segundo filho se fosse bom para o trio familiar, não consigo ver a coisa só na ótica de ser bom para a Maria Rita. Como ela foi uma criança difícil, neste momento estamos fechados. Não é por não gostar de crianças, mas a minha filha só agora, aos quatro anos, é que começou a dormir.

Diana: Eu não gosto muito de crianças, gosto é muito da minha.