França. A coroação de Macron, “O Amador”

Tomou posse o mais jovem líder francês desde Napoleão. O mais difícil está por vir e a inexperiência pode-lhe custar caro.

Não se ignora que as cerimónias de tomada de posse vivem envoltas em protocolo e simbolismo. Aconteceu o mesmo com a deste domingo, dia em que Emmanuel Macron foi investido efetivamente como o mais novo e – até há não muito tempo – o mais improvável presidente francês, na habitual dose de passeatas, marchas e desfiles, discursos e cerimónias, pequenas coroações republicanas e nervosismo pelo que acontecerá no próximo mês, o tempo de que o novo líder dispõe para preparar centenas de pequenas versões da sua candidatura de político amador, cujo sucesso determinará a margem de manobra para os próximos cinco anos de Eliseu. Seja qual for o resultado do movimento La République en Marche (REM) nas eleições legislativas de 11 e 18 de junho, este domingo foi o culminar do imprevisível caminho rumo ao poder de Emmanuel Macron, que há apenas três anos era um desconhecido dos franceses, que construiu um partido do zero há pouquíssimo mais de um ano, se demitiu de um governo ultraimpopular há nove meses e apenas três meses depois se lançou para as eleições presidenciais.

Primeiro símbolo, uns minutos antes das 10h. Macron estava ainda a caminho do Eliseu e François Hollande dá uma última vista de olhos ao pátio desde a varanda do gabinete que estava prestes a deixar pela última vez como presidente. Desce momentos depois para receber o sucessor, que inadvertidamente lançou ao promover de conselheiro a ministro da Economia. Hollande, na postura imóvel com que habitualmente se compara a sua presidência, recebe Macron sem um abraço e sobe com ele ao gabinete onde conversaram uma hora – o dobro do que estava agendado. Lá entrega-lhe os códigos das armas nucleares francesas e os últimos segredos de Estado. Desce com Macron e parte do Eliseu num Citroën que o leva à sede do Partido Socialista. Cabeça fora de carro, dirige as últimas palavras ao sucessor: “Bonne chance”, lança o líder mais impopular da V República. 

Renascimento

“Deixo o país num estado melhor daquele em que o encontrei”, diz Hollande, minutos depois, aos militantes do partido que quase se desintegrou sob o seu comando e que caminha sem poder para as eleições legislativas. No Eliseu, Macron recebe o colar de grande mestre da Légion d’honeur que pertenceu a Napoleão e discursa pela primeira vez como presidente, falando sobre um grande renascimento do poder francês no mundo num fato que custou menos de 500 euros, como a sua campanha fez questão de anunciar – outro símbolo. No rumo desse renascimento, encontra-se esta segunda-feira com Angela Merkel em Berlim e em breve com as tropas francesas destacadas em África – deslocou-se ao monumento do soldado desconhecido num veículo militar, novo símbolo e algo que nem De Gaulle fez. “O mundo e a Europa precisam hoje da França como nunca antes. Precisam de uma França forte e segura do seu destino. Precisamos de uma França que defende a alto e bom som a liberdade e solidariedade. O papel da França no mundo é da maior importância. Assumiremos as nossas responsabilidades sempre que isso for necessário, numa resposta relevante às grandes crises contemporâneas. Sejam elas respostas à crise da migração, aos desafios das alterações climáticas, aos abusos autoritários, aos excessos do capitalismo mundial e, sim, ao terrorismo.”

De novo eleições

Macron queria mais e mais rápido nos seus dias de ministro da Economia e hoje quer o mesmo como presidente. As próximas semanas serão cruciais. O novo líder ainda não anunciou o seu primeiro-ministro (deve fazê-lo segunda) e no sábado, horas antes da sua tomada de posse, Macron discursava aos 428 candidatos a deputados pelo REM, no Musée du Quai, uma lista em que mais de metade não tem experiência política e que está ainda incompleta: se o jovem movimento político quer de facto concorrer a 576 lugares no Parlamento, precisa de mais 148 nomes. A forma encontrada por Macron para aligeirar uma parte do fardo sobre o REM foi selar no fim de semana um acordo eleitoral com o movimento do centrista François Bayrou, com quem vai concorrer às legislativas. Mas mesmo esse acordo quase lhe explodiu nas mãos quando Bayrou se veio queixar da divisão de lugares, forçando o novo líder francês a uma renegociação. A renovação pode ser um valor político. A inexperiência, nem tanto.