Liga, Taça e Supertaça. Desde 1981 que Benfica não ganhava tudo na mesma época

Desde 1981 que o Benfica não vencia Liga, Taça e Supertaça na mesma época. Aconteceu agora – e Rui Vitória voltou a fazer história

Trinta e seis anos depois, o Benfica voltou a realizar uma época perfeita. Ou quase: é que nos idos de 1981 não havia ainda essa “modernice” chamada Taça da Liga, competição que este ano foi pregar para outra freguesia – a de Moreira de Cónegos, pertencente ao concelho… de Guimarães.

Pois bem: desta feita, a águia voou mesmo até ao objetivo final. À Supertaça conquistada no primeiro encontro oficial da época, o Benfica somou o inédito tetracampeonato e fechou a temporada com chave de ouro, vencendo também no Jamor: 2-1 ao Vitória de Guimarães, um valoroso adversário que merecia estar mais vezes nestes palcos, como frisou o seu técnico, Pedro Martins, na hora do rescaldo.

Foram apenas três golos, mas podiam ter sido muitos mais, tantas foram as ocasiões claras desperdiçadas pelas duas equipas. E isto, refira-se, debaixo de um imenso temporal que resolveu começar a cair sob o Estádio do Jamor momentos antes da final ter início e, ironia das ironias, só findou… precisamente após o apito final de Hugo Miguel. Pode ter sido uma manobra de São Pedro para tornar as coisas ainda mais interessantes…

 

Rui Vitória é caso único

Fosse qual fosse o desfecho do encontro, Rui Vitória teria sempre garantido o lugar de protagonista. É que já havia sido o atual técnico do Benfica, então no comando do Vitória de Guimarães, a vencer a última final entre estas equipas (2012/13, 2-1 ao Benfica de Jorge Jesus), naquela que era a única Taça no palmarés dos vimaranenses. Com o jogo de ontem, Rui Vitória tornou-se no terceiro treinador de sempre a repetir a mesma final, mas ao comando de clubes diferentes – depois de Otto Glória e Manuel José –, mas, e num dado ainda mais relevante, é o primeiro a conseguir vencer pelas duas equipas.

Dessa final de 2013, apenas dois jogadores voltaram a alinhar ontem no relvado do Jamor: Luisão e Salvio. O Vitória contava com o passado recente na prova – havia vencido os últimos três –, mas saía claramente derrotado na contabilidade desta temporada: em três encontros realizados (campeonato e Taça), perdeu todos e com um saldo de 0-9 em golos. Não marcava às águias, de resto, precisamente desde a tal final há quatro anos.

A entrada em jogo, porém, mostrou uma equipa descomplexada e apostada em surpreender logo a abrir – ao contrário do que aconteceu há duas semanas na Luz, no encontro que consagrou o Benfica como campeão nacional (5-0). Pertenceu ao Vitória a primeira ocasião, com Hurtado a atirar ao lado – na resposta, Pizzi não fez melhor. O jogo continuou neste tom, com ocasiões a surgir para os dois lados, apesar da postura cautelosa de ambas as equipas, própria de uma final.

 

Tecnologia ao dispor

Este jogo foi histórico ainda por outro motivo: pela primeira vez, o vídeo-árbitro foi utilizado em Portugal numa competição oficial. E Hugo Miguel não enjeitou a ajuda da tecnologia: desde logo aos 12’, quando uma bola tocou no braço de Josué e o árbitro mandou seguir. Voltaria a fazê-lo aos 57’, numa jogada plena de confusão na área vimaranense.

Pelo meio, já tinha acontecido um dos momentos do jogo: numa bola dividida, Marega acabou por acertar com violência em Fejsa, levando o sérvio a ter de abandonar a final de forma precoce – curiosamente, era o seu primeiro jogo nesta competição desde outubro… de 2015. Entrou Samaris, que haveria de fazer aqui um dos melhores jogos com a camisola do Benfica.

Mas também Raúl Jiménez reclamou para si – com todo o mérito – o papel principal. Novamente eleito por Rui Vitória para o onze, relegando Mitroglou para o banco, o mexicano voltou a dar razão a todos aqueles que pedem que jogue mais tempo: foi dele o primeiro golo da final, volvidos apenas três minutos após o intervalo. Remate de longe de Jonas, defesa incompleta de Miguel Silva e Raúl a aparecer e a picar por cima do jovem guarda-redes português: em nove jogos a titular esta época… marcou em oito.

Tinha início o período mais negro do Vitória no jogo: foram cinco minutos de pesadelo, que redundaram em dois golos sofridos. Aos 53’, uma jogada de envolvimento coletivo encarnada, iniciada na enésima recuperação de Luisão – jogo enorme do capitão do Benfica – e em que a bola passou por quase toda a equipa, culminou com um passe fenomenal de Jonas a encontrar Nélson Semedo na direita do ataque e o cruzamento do lateral-direito para um cabeceamento fulgurante de Salvio.

A partir daqui, os de Guimarães voltaram a equilibrar – Marega ameaçou de livre direto logo a seguir – e chegariam mesmo ao golo a 12’ dos 90, num cabeceamento de Zungu após canto. Antes, porém, já o Benfica podia ter arrumado a questão, não fosse a cabeçada de Jonas ter ido direitinha ao poste da baliza vimaranense aos 66’. E mesmo nos últimos minutos, com o Vitória totalmente balanceado para o ataque, Jiménez e Pizzi ainda falharam mais dois golos feitos na cara de Miguel Silva.

No fim, ganhou de facto a melhor equipa. E isto vale para a Taça como para os outros dois troféus: em 2016/17, o Benfica de Rui Vitória foi de facto o melhor.