1967 a 1976. De repente, um vento que soprou do norte…

Só o Inter conseguiu intrometer-se na nova realidade. Escócia, Inglaterra, Holanda e Alemanha tomavam o lugar de Espanha, Portugal e Itália

Como vimos ontem (isto é, se teve a oportunidade de deitar uma vista de olhos a estas páginas), os primeiros dez anos da Taça dos Campeões Europeus foram absolutamente dominados pelas equipas dos países latinos, chegando-se ao cúmulo de, nas 11 finais, apenas Eintracht Frankfurt e Partizan de Belgrado terem fugido a essa ditadura férrea.
Para se perceber o que de surpreendente teve o triunfo do Celtic no Estádio Nacional, no dia 25 de maio de 1967, perante o favoritíssimo Inter, há que referir o seguinte: as equipas britânicas – e aqui só cabem as inglesas e escocesas – somavam oito meias-finais, mas nunca tinham ido para além disso; essas meias-finais ficaram a cargo de Hibernian, Manchester United (2), Rangers, Tottenham, Dundee e Liverpool; a tragédia de Munique, em fevereiro de 1958, que dizimou a equipa do United, impediu muito provavelmente que a obra de Matt Busby desse resultados antes de 1967; era a primeira participação do Celtic na Taça dos Campeões.

Mas também não se pense que as coisas caem assim do céu à trouxe-mouxe. Afinal, os rapazes de Glasgow já tinham estado presentes em duas meias–finais da Taça dos Vencedores das Taças (1963/64 e 1965/66).
O Inter era… oInter. Bicampeão europeu à procura do tri, com Fachetti e Burgnich, Mazzola e Domenghini. De pouco lhes serviu. Jock Stein construiu um grupo sólido e lutador. Ganhou tudo: campeonato, Taça da Escócia, Taça da Liga, Taça de Glasgow e a Taça dos Campeões, com os golos de Gemmell e Chalmers a anularem a vantagem madrugadora de Mazzola.

Primeira equipa não latina a intrometer-se na lista de vencedores, o Celtic não saberia defender o seu título. Seria eliminado na época seguinte logo na primeira eliminatória, pelo Dínamo de Kiev. Viria o Manchester United de Bobby Charlton, Stiles, Kidd e George Best tomar o seu lugar, vencendo o Benfica em Wembley, numa final que obrigou a prolongamento.

Um pequeno país “The Times They Are–a-Changin’”, cantava Bob Dylan antes de ser Prémio Nobel. mas os ventos não continuariam a soprar da Grande Ilha para lá da Mancha, como se esperava. Um pequenino país do centro-norte da Europa surgia no panorama do futebol internacional, ainda que mal saído do amadorismo. 

O ressurgimento do Milan, campeão da Europa em 1969, pôs um ponto final nas grandes proezas italianas, espanholas e portuguesas por uns tempos largos. E a final de Madrid fez entornar sobre um clube de Amesterdão, o Ajax, as luzes dos holofotes. Rinus Michels, conhecido por O General, deu-nos um futebol novo praticado por uma rapaziada de cabelos compridos que pareciam uma banda de rock. Os nomes ficaram para a história: Suurbier, Hullshoff, Keizer, Krol, Neeskens,Cruyff… demasiado jovens para suportarem a exigência da classe dos milaneses (derrota por 1-4), mas preparando um conjunto extraordinário que se tornou, depois do RealMadrid, o primeiro a conquistar três Taças dos Campeões consecutivas (1970/71, 1971/72 e 1972/73).

Entretanto, pelo meio, uma final meio estranha e meio curiosa. Rival do Ajax na Holanda, o Feyenoord de Roterdão, guiado por um dos grandes técnicos de todos os tempos, o austríaco Ernst Happel, com jogadores como Israel, Kindvall e Van Hanegen, terminava o ciclo glorioso doCeltic de Jock Stein batendo os escoceses em San Siro (2-1). Era a primeira das quatro vitórias holandesas de enfiada. O futebol total do Ajax dominou a prova sem rebuço e a derrota da primeira final, frente aoMilan, teve vingança dupla: Inter (2-0 em 1972), Juventus (1-0 em 1973).

O dia 7 de novembro de 1973 foi absolutamente surpreendente: o CSKA de Sófia venceu o campeão da Europa por 2-0, após prolongamento, e deixou o caminho aberto para surgir um novo rei que morava na Baviera. O Bayern de Munique, que já ganhara a Taça das Taças em 1966/67, mas só tivera duas participações (pouco conseguidas) na Taça dos Campeões, abria o seu ciclo de brilho intenso. Maier, Breitner, Schwarzenbeck, Beckenbauer, Müller, Hoenness juntaram, nesse ano de 1974, a vitória na finalíssima doHeysel frente ao Atlético de Madrid (1-1 e, depois, 4-0) à vitória na final do Campeonato do Mundo, em Munique, frente à Holanda de Rinus Michels.
Haveria forma mais segura de passar o testemunho? Cruyff seria contratado pelo Barcelona e o Ajax entraria num limbo do qual demorou a sair.

Quanto ao Bayern, iria impor-se nos anos seguintes ao Leeds United (2-0) e ao Saint-Étienne (1-0). Voltaria a ser o Dínamo de Kiev a interromper outra marcha triunfal, na época de 1976/77, nos quartos-de-final. Como atrás ficou dito, estes ciclos não surgiam por acaso. Vinham aí os ingleses, mas o Borússia de Moenchengladbach assinou a quarta final alemã consecutiva. (Amanhã: 1977 a 1984).