Venda de refrigerantes com mais açúcar caiu 72% no 1.º trimestre

Entre janeiro e março, o consumo de refrigerantes com maior teor de açúcar sofreu uma queda de 20 milhões de litros. Efeito da sugar tax?

A venda de refrigerantes com mais açúcar caiu 72% no primeiro trimestre deste ano. Em janeiro, quando entrou em vigor a lei do orçamento do Estado, que pela primeira vez aplicou uma taxa extra às bebidas com açúcar adicionado, o consumo destes refrigerantes rondava os 30 milhões de litros/mês. Em março, o consumo registado não chega a dez milhões de litros, uma redução de 72%.

Estes são os números preliminares avançados, ontem, pelo Ministério da Saúde sobre os efeitos da nova taxa que impôs um aumento de 8,22 euros por hectolitro em bebidas com 80 gramas de açúcar por litro. Para as bebidas com 80 ou mais gramas de açúcar por litro, o aumento da tributação foi de 16,46 euros por hectolitro.

E, de acordo com os dados da tutela – apresentados ontem na na Alimentaria & Horexpo Lisboa 2017, que está a decorrer na Feira Internacional de Lisboa (FIL) – foi precisamente nestas bebidas mais açucaradas que se registou a maior descida no consumo.

No caso das bebidas até 80 gramas de açúcar a quebra do consumo não foi tão acentuada. Entre janeiro e março, a redução não ultrapassa os cerca de dois milhões de litros, indicam os dados oficiais da tutela, o que dá uma descida de 5,5%.

Na apresentação, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, defendeu que há que perceber que razões travaram a descida no consumo das bebidas menos açucaradas Mas o Ministério da Saúde diz também que ainda é cedo para perceber que razões levaram à queda acentuada no consumo das bebidas com maior teor de açúcar.

A tutela quer perceber se a quebra de 20 milhões de litros no consumo dos refrigerantes resulta de uma adaptação de fórmulas por parte das empresas, de um menor investimento em publicidade ou se houve, por exemplo, uma transferência no consumo, ou seja, se as pessoas passaram a consumir outras bebidas. Fernando Araújo pôs ainda a hipótese de este ser um comportamento sazonal ou de a queda do consumo poder resultar de uma menor produção de refrigerantes, devido à queda das margens de lucro com a chamada sugar tax.

Efeitos também nas máquinas de venda automática Outro resultado apresentado por Fernando Araújo foi o da evolução da venda de produtos nas máquinas de venda automática no SNS. Desde setembro do ano passado que passou a ser limitada a venda de alimentos com excesso de calorias, alto teor de sal e de gorduras saturadas nas máquinas de vending instaladas em estabelecimentos de saúde. Já em março deste ano, a venda deste produtos nas máquinas passou a estar completamente interdita.

Ao contrário do receio de que a limitação de produtos se traduziria numa diminuição das vendas, os primeiros dados disponíveis apontam até para um ligeiro aumento do consumo das opções mais saudáveis.

De acordo com os números apresentados pela tutela, no segundo semestre de 2015 foram vendidas nas máquinas 73.829 unidades. Já no segundo semestre de 2016, as vendas subiram para 75.714 unidades, o que representa um aumento de 2,5%. “Em vez de assistirmos a uma redução da venda de produtos, assistimos a um aumento e a uma mudança de comportamento, sobretudo no consumo de mais fruta”, salientou Fernando Araújo.

A sugar tax e as restrições de alimentos nas máquinas de venda automática são duas das medidas aplicadas pelo Ministério da Saúde para combater o excesso de peso, sendo que há em Portugal 52,8% de adultos e 28% de crianças obesas ou com excesso de peso, percentagens que colocam o país bem acima da média europeia.