Eleições britânicas. May pressionada a afastar-se

Plano de May falhou a toda a linha, com os conservadores a perderam a maioria parlamentar

Depois meses e meses de rejeições contínuas de um cenário de novas eleições, Theresa May aceitou, por fim, convocar um novo ato eleitoral, numa altura em que o Partido Conservador liderava as sondagens com uma vantagem confortável de 20 pontos percentuais sobre os trabalhistas – dados como mortos e enterrados por grande parte da opinião pública britânica. O objetivo era o de reforçar ainda mais a maioria tory de 17 deputados da Câmara dos Comuns e encarar as duras negociações com Bruxelas rumo ao Brexit, com a legitimidade que muitos não viam na primeira-ministra.

Vinte e quatro horas passadas do horário de abertura das urnas, e com 646 dos 650 lugares definidos, o cenário é catastrófico para o partido do governo. Com 315 deputados eleitos e 42% dos votos, os tories perderam deputados e, mais grave que tudo, perderam a maioria que tinha na câmara baixa de Westminster.

No seu discurso de vitória pelo círculo eleitoral de Maidenhead, durante a madrugada de hoje, Theresa May – que no final de maio garantia que se afastava do cargo, perante um cenário de perda de seis deputados – voltava, no entanto, a defender que o Reino Unido precisa de “estabilidade” e lembrava que, apesar de tudo, os conservadores “ganharam a maioria dos lugares e provavelmente a maioria dos votos.

Do lado trabalhista, que conseguiu 40% dos votos e aponta à eleição 261 deputados – mais 31 que na eleição de 2015 – não há dúvidas: o resultado desta eleição é um sinal de que May não tem condições para liderar os destinos do Reino Unido e muito menos para protagonizar as negociações para o abandono britânico da União. Jeremy Corbyn defendeu que está na altura de May “dar lugar” a um governo que “represente verdadeiramente a população” britânica e pediu o afastamento da primeira-ministra.

Em declarações à ITV, ex-ministro das Finanças tory George Osborne prevê que a líder do partido apresente a demissão nas próximas horas e criticou a insistência na defesa do hard-Brexit. “Theresa May deverá ser uma das primeiras-ministras que serviu menos tempo na nossa História”, vaticinou o antigo integrante do governo de David Cameron.

Com cerca de 68% de participação – pouco mais do que as últimas eleições legislativas – as eleições desta quinta-feira viram ainda os Liberais Democratas conquistarem 12 deputados, os nacionalistas escoceses do SNP elegerem 35 – menos 19 que em 2015 – e o UKIP desaparecer completamente do mapa político britânico.

Uma vez que nenhuma das forças políticas logrou os 326 deputados necessários para estabelecer uma maioria, estamos perante um cenário a que os britânicos chamam de “hung parliament” – parlamento suspenso. O partido liberal de Tim Farron já rejeitou voltar a coligar-se com os tories, como tinha feito em 2010, pelo que Theresa May vê-se numa posição de isolamento quase total em Westminster. Pior que isso, o Reino Unido encontra-se, assim, numa posição de enorme incerteza política, nas vésperas das negociações mais importantes da sua História recente.

Tal como Cameron, que foi obrigado a afastar-se do poder na sequência do resultado do referendo à saída ou permanência do Reino Unido na UE, convocado por si, May pode ter cometido um verdadeiro suicídio político ao apostar em novas eleições. A primeira-ministra vai falar ao país durante a manhã desta sexta-feira. A apresentação da demissão ou o anúncio da liderança de um governo minoritário são cenários em cima da mesa. Nenhum tão favorável como o que se verificava há sete semanas, no entanto.