Alemanha. Apertado, Schulz atira à “arrogância” de Merkel

O líder social-democrata tem um caminho difícil até setembro: está a 15 pontos dos conservadores e em queda. Mas diz que há esperança.

Martin Schulz não recebe uma boa sondagem há meses e a imprensa alemã decidiu que o seu discurso deste domingo no congresso social-democrata era a sua "última oportunidade". Com cerca de 15 pontos de desvantagem em relação à União Democrática Cristã (CDU) da chanceler Angela Merkel, não é difícil perceber porquê.

“O maior perigo está na arrogância do poder”, lançou o candidato do SPD, que abandonou o Parlamento Europeu para se lançar numa corrida contra a chanceler conservadora, que concorre a um quarto mandato consecutivo e a quem este domingo acusou de não oferecer resistência suficiente ao novo preisdente americano, de estar a fugir a uma necessária refundação do espaço europeu e de "recusar sistematicamente a debater o futuro do país". 

“O outro lado está em silêncio”, disse Schulz aos cerca de 600 delegados e cinco mil convidados reunidos este domingo em Dortmund. “A isso chama-se nos círculos de Berlim uma desmobilização assimétrica. Eu chamo-lhe um ataque contra a democracia.”

Schulz refere-se ao facto de a CDU de Merkel ainda não ter publicado um programa para as eleições de setembro e por agora se parecer sustentar sobretudo na figura altamente popular de Angela Merkel, que tem beneficiado muito com a atuação internacional contra o presidente americano Donald Trump – ao contrário do que este domingo sugeria o líder social-democrata.

O ex-líder do Parlamento Europeu concorre com uma plataforma mais liberal do que aquela que aceitou para fazer coligação com a CDU – algo que está fora dos planos em diante. Uma das propostas de bandeira do SPD é o casamento e adoção para casais do mesmo sexo, por exemplo, a que Merkel e a sua aliança conservadora se têm recusado.

O partido social-democrata propõe também mais impostos para os mais ricos e menos carga fiscal para os mais pobres, para além de mais ajudas familiares e um governo comum da moeda única – um ponto em linha com as reivindicações dos países do sul e do novo presidente francês. 

Schroeder em cena

As perspetivas são negras. A mais recente sondagem nacional sugere que os social-democratas estão 15 pontos atrás dos conservadores de Merkel e em queda permanente. O partido, para além do mais, parece desmoralizado depois das três derrotas consecutivas em eleições locais.

Se Schulz reapareceu na cena política alemã como uma figura “relativamente nova, com críticas contra as políticas migratórias da chanceler” – como explicava este domingo à AFP o politólogo Gero Neugebauer –, a queda no número das chegadas de novos requerentes de asilo inclinou o tabuleiro de novo para o lado de Merkel. “Convenceu o eleitorado de que a CDU tem a melhor estratégia para lidar com a situação dos refugiados”, afirma Neugebauer.

Também neste tema o SPD não é o único partido a cair: a formação nacionalista Alternativa para a Alemanha tem apenas 7% e está no sexto lugar, atrás do Die Linkie (9%), os Verdes e os Liberais (8%) – estes últimos podem dar maioria a Merkel através de uma coligação. 

Em todo o caso, o SPD fez o melhor este domingo por deixar claro que tudo é possível e que a derrota suave de Jeremy Corbyn nas eleições britânicas assim o demonstra.

Para isso o partido trouxe Gerhard Schroeder, o último chanceler social-democrata que nem é uma figura próxima de Schulz, mas que foi dizer ao comício que “ainda há tempo para inverter a maré”, que os eleitores decidem à última hora e que “não podem haver dúvidas ao longo do caminho”.