“Uma amaragem bem conseguida seria quase impossível”

Entrevista a João Carlos Francisco, presidente do Aeroclube de Torres Vedras, escola à qual pertencia o aparelho que caiu na Caparica

A aeronave que caiu pertence ao Aeroclube de Torres Vedras. Tem ideia do que terá acontecido?

A aeronave, apesar de ser nossa, estava cedida à escola de aviação G-Air. A operação era da responsabilidade deles. 

O piloto não era vosso?

Não, não temos diretamente nada a ver com esta operação. A aeronave é nossa, mas tem um acordo de cedência e já lá está há vários anos. Nunca teve problemas mecânicos e é uma aeronave muito fiável, das mais usadas na instrução.

Dada a sua experiência, é possível avançar alguma hipótese?

Este tipo de aeronave tem um protocolo de manutenção igual ao de um Boeing ou de um Airbus, as exigências são as mesmas, ao contrário do que acontece com as aeronaves ultraligeiras, em que a manutenção é feita pelos pilotos ou pelos proprietários. Com aeronaves Cessna não, tudo é certificado. Para nós, isto é surpreendente, porque operamos com estes aparelhos desde os anos 70. 

Seria possível uma amaragem com uma aeronave destas?

Se fosse um aparelho com rodas que encolhessem, poderíamos dizer que a amaragem poderia ser conseguida, mas com um trem fixo, como as rodas batem na água, a aeronave dava um mergulho logo para dentro do mar. É diferente de aeronaves como o Airbus, que recolhe as rodas e faz barriga. São decisões dos pilotos, mas posso dizer-lhe que uma amaragem bem conseguida, nestas condições, seria quase impossível. Especialmente em ambiente de mar. E, ainda por cima, com asa alta. Ou seja, para se perceber, neste caso, mesmo que as asas flutuassem, o cockpit ficava todo debaixo de água.