FC Porto-Estoril: não há mangueira que apague o fogo deste dragão

O renovado FC Porto de Sérgio Conceição trucidou o Estoril: foram quatro, mas podiam ter sido tranquilamente sete ou oito os golos dos dragões, tal a avalanche de futebol ofensivo demonstrada. Isto ainda agora começou, é um facto, mas se jogarem sempre assim, os azuis-e-brancos serão muito difíceis de travar nesta temporada

Se dúvidas ainda restassem, após as várias demonstrações da pré-temporada, as mesmas terão ficado dissipadas na noite de ontem: o FC Porto de Sérgio Conceição será uma impiedosa máquina de ataque. Ninguém pode garantir que irá correr sempre bem, nem tão-pouco que os dragões acabarão a época a celebrar pela primeira vez desde 2013, mas uma coisa é certa: estão, agora, definitivamente melhor direcionados para chegar a essa meta do que estavam há alguns meses. Apesar do segundo lugar conseguido na temporada passada, o estilo de jogo preconizado por Nuno Espírito Santo nunca convenceu nem os mais acérrimos adeptos azuis-e-brancos – já para não falar daquele apresentado pelas equipas de José Peseiro, Julen Lopetegui ou Paulo Fonseca.

E nem se pense que o Estoril apareceu encolhido no Dragão. Nada disso. O conjunto orientado por Pedro Emanuel, velha glória portista, apresentou-se com um onze marcadamente ofensivo, com André Claro, Carlinhos e Allano nas costas do ponta-de-lança Kléber. Mas do outro lado estava uma equipa ainda mais balanceada para o ataque, com Danilo como único homem de funções tipicamente defensivas na zona do meio-campo. À sua frente, só flechas apontadas à baliza de Moreira: Corona, Óliver, Brahimi e os avançados Aboubakar e Soares – mais os laterais Ricardo e Alex Telles, ambos de características marcadamente ofensivas.

A pressão sufocante quase dava frutos logo aos dois minutos, quando Aboubakar falhou a emenda na cara de Moreira após cruzamento de Corona. Aos 16’, um golo extraordinário do camaronês, com um toque de calcanhar, foi invalidado por fora-de-jogo, e aos 29’ novamente Aboubakar a desperdiçar uma ocasião clara, outra vez após jogada de Corona. Antes, refira-se, o Estoril havia finalmente dado um ar da sua graça, com um cruzamento de André Claro a atingir a barra da baliza de Casillas.

À passagem da meia-hora, um dos momentos que viria a marcar o encontro. Soares, que treinou condicionado nos últimos dias, sofreu uma recaída e teve de sair. Sérgio Conceição hesitou entre Otávio e Marega, mas acabou por se decidir pelo maliano, e em boa hora o fez. Apenas quatro minutos depois de entrar, o avançado que na época passada esteve cedido ao Vitória de Guimarães aproveitou um atraso ridículo de Mano para o guarda-redes e abriu o marcador. Até ao intervalo, mais um golo anulado aos dragões, e novamente uma boa decisão da equipa de arbitragem, pois Corona estava de facto em posição irregular.

Até o vídeo-árbitro participou Do balneário, os portistas vieram ainda com mais fome de bola. Que nunca ficou satisfeita, mesmo com o avolumar do marcador. Beneficiando de um ressalto fortuito, Brahimi aumentou para 2-0 aos 54’, coroando uma enorme exibição. Mas havia mais. Apenas oito minutos volvidos, Marega bisou, agora a concluir de cabeça após centro de Óliver – isto, já depois de Aboubakar desperdiçar três excelentes ocasiões!

Está já sem fôlego, caro leitor? É normal: a exibição portista teve exatamente esse efeito para quem teve oportunidade de a ver. Faltava ainda, porém, o momento insólito da noite, protagonizado pelo cada vez mais famoso recurso ao vídeo-árbitro: aos 69’, Marcano fez o 4-0, após novo cruzamento de Óliver, mas o golo foi anulado novamente por fora-de-jogo. O árbitro Hugo Miguel, todavia, não ficou convencido e recorreu à tecnologia, acabando por verificar que o central espanhol estava em posição regular e validando assim novo tento. Estava consumada a goleada.

A partir daqui, sim, o FC Porto tirou o pé e permitiu uma resposta mais assertiva dos homens da Linha. De uma assentada, Casillas foi obrigado a duas excelentes intervenções, travando tentativas de Lucas Evangelista e Allano, antes de Aguilar atirar à trave. Contas feitas, os dragões, que não perdem em casa há 20 jogos em provas nacionais, atiraram-se desde já para o topo da tabela. E de lá não sairão tão cedo se continuarem com este fogo indomável.