Vinte anos depois, ainda Diana

Um artigo científico publicado após a morte da princesa revela que o número de feridos por trauma diminuiu numa unidade hospitalar do Reino Unido. Diana morreu há vinte anos, mas os artigos na imprensa e documentários continuam a suceder-se.

Vinte anos depois, ainda Diana

A morte – monárquica ou plebeia – é sempre um sapo difícil de engolir, em especial quando se trata de alguém que, pelos ditames da curva natural da vida, se findou num tempo que não era o seu. A deglutição ganha outra dimensão quando a morte é a de uma figura pública, tão (quase consensualmente) acarinhada por todos que, ainda em vida, conquistou a coroa de princesa do povo. Junte-se a estas premissas a simpatia natural da personagem – não esquecendo a beleza e fotogenia –, a sua ligação a campanhas de solidariedade internacional, dois filhos pequenos por criar – príncipes! loiros! –, um acidente brutal e estão reunidos os ingredientes para uma onda de choque à escala global. Foi assim faz na próxima quinta-feira 20 anos, quando Diana Frances Spencer morreu num aparatoso acidente de carro em Paris.

Se a espécie de histeria global com que o mundo seguiu o desenrolar dos acontecimentos nos dias seguintes à morte da princesa de Gales é bem conhecido, – a título de exemplo, só nos Estados Unidos, a Nielsen indica que o funeral, foi visto por 33,2 milhões de norte-americanos – há outros dados curiosos sobre a onda, quase um tsunami, suscitada pela morte de Diana.

 

Mais depressões, menos traumas

Um pouco menos de um ano após o acidente, em junho de 1998, três médicos – dois especialistas em ortopedia, Rhidian Morgan-Jones e Kevin Smith e Peter Oakey, anestesista – publicaram um artigo científico ao qual chamaram The Diana Effect [O efeito Diana], relacionando a morte – e , especificamente, a causa da morte de Diana – com o número de feridos que chegava à unidade de saúde em que trabalhavam, o North Staffordshire Royal Infirmary – entretanto encerrado em 2012.

No artigo, os médicos especialistas revelam que, por um lado, o número de consultas associadas a problemas psicológicos aumentou, mas o «número de admissões por trauma na enfermaria real do North Staffordshire diminuiu 10% desde a morte de Diana». Ora, consideraram os médicos no dito artigo, a grande maioria dos pacientes internados nesta unidade tinha sofrido os traumas em acidentes rodoviário, daí ser «tentador implicar uma associação causal – embora provavelmente subliminar – com hábitos de condução após os trágicos acontecimentos de Paris».

O certo é que a tendência verificou-se nos três meses seguintes ao acontecimento. Ou seja, até dezembro de 1997 os condutores e transeuntes parecem ter tido, efetivamente, mais cuidado com a condução, causa provável da diminuição dos acidentes.

Moral da história, há sempre a outra face da moeda, lá diz o ditado, por isso não deixa de ser curioso constatar como uma desgraça conseguiu gerar, aparentemente, comportamentos defensivos na população. O subconsciente é, indubitavelmente, uma arma poderosa.

 

Documentários e outros que tais

As irradiações da morte de ‘ Lady Di’, à parte da curiosidade científica, continuam, quais pequenas – por vezes gigantes – ondas, a ir desaguando de forma frequente, principalmente nos meios de comunicação social. Os tabloides britânicos são campeões nesta praia mas o certo é que Diana continua a ser mencionada globalmente pelos media. As notícias mais regulares dão conta, essencialmente, de aspetos da esfera privada da sua vida, esmiframento com o qual lidou desde que se tornou princesa e que culminou, trágica e poeticamente, com a perseguição dos paparazzi e o despiste no túnel Pont D’Alma, em Paris.

 Coincidindo com a aproximação das duas décadas do desaparecimento da aristocrata, têm sido lançados uma série de documentários, dois deles exercícios inéditos. O primeiro, produzido pela ITV e lançado em julho, dá pelo nome Diana: A Nossa Mãe: A sua Vida e Legado e, tal como o nome indica, tem como protagonistas William e Harry, os filhos da princesa que falaram sem reservas sobre a morte da mãe.

Já o segundo , Diana, nas suas próprias palavras, bem mais polémico, tem o selo do Channel 4 e estreou recentemente no Reino Unido. A família tentou por diversas vezes impedir o lançamento do documentário, que consiste num conjunto de vídeos gravados pela própria Diana em que fala das relações sexuais com o ex-marido, o casamento, as traições e por aí adiante. Portanto, um sucesso de audiências – no dia de estreia bateu inclusivamente o recorde do canal britânico. Por cá, é emitido exatamente a dia 31, no canal Odisseia.