É do conhecimento geral que a construção civil foi drasticamente afetada com a última crise económica nacional e a engenharia civil em particular sofreu um decréscimo acentuado de estudantes no ensino superior: em seis anos, na primeira fase de colocações, observou-se uma redução de cerca de 1500 para 150 novos estudantes! Contudo, há sinais animadores de retoma, com crescimentos de 113% e 16%, em 2015 e 2016, respetivamente.
Em paralelo, a quarta revolução industrial, a sustentabilidade e a eficiência energética estão a conduzir a construção civil para uma órbita diferente daquela que conhecemos há várias décadas. Ao nível da gestão de projeto e planeamento de obra, as novas tecnologias digitais estão a tornar real a ‘obra sem papel’. Ao nível dos processos construtivos, a tecnologia baseada na impressão 3D ameaça romper com o atual status quo; várias start-ups já foram capazes de construir protótipos de pontes e elementos estruturais de edifícios com esta tecnologia. Ao nível da sustentabilidade, a implementação do conceito de economia circular está a oferecer a oportunidade de reinventar a nossa economia. A União Europeia (UE) já adotou um ambicioso pacote para estimular a transição dos países membros para uma economia circular, de forma a reforçar a sua competitividade a nível mundial, promover o crescimento económico sustentável e criar novos postos de trabalho. Numa UE energeticamente dependente do exterior, ao nível da eficiência energética há a tendência para se construir mais sistemas de produção de energia renovável, mais pequenos e mais dispersos, de forma a viabilizar edifícios energeticamente independentes, reduzir perdas de energia e diminuir as emissões de gases com efeito de estufa. Neste seguimento, a Diretiva 2010/31/UE do Parlamento Europeu e do Conselho da UE propõe que todos os novos edifícios tenham um balanço energético próximo do zero até o final de 2020.
Neste ambiente, nos últimos anos vários grupos de trabalho foram criados para ajudar a redefinir o futuro da engenharia civil e adaptar a mesma à nova realidade. Assim, os conteúdos programáticos nas universidades começam a ser ajustados para enfrentar os desafios e iniciativas que transformará a forma como concebemos, projetamos e (re)construímos edifícios e infraestruturas. É caso para dizer que hoje estamos a assistir ao início de uma nova era da engenharia civil, onde a multidisciplinaridade na formação e a abertura à mudança são cruciais para o futuro engenheiro civil.
*Diretor da Licenciatura e do Mestrado em Engenharia Civil Universidade Lusófona, Lisboa