Irlanda rejeita proposta britânica para a fronteira pós-Brexit

Dublin considera o projeto “pouco convincente” e Michel Barnier, negociador chefe da UE, disse que “não vai acontecer”

O governo irlandês recusou a proposta britânica de uma fronteira "invísivel" com o Reino Unido por considerá-la pouco "convincente", um dia depois de Michel Barnier, chefe dos negociadores da União Europeia, ter dito que a iniciativa exigiria à UE criar uma exceção legal para o Reino Unido.

O chefe dos negociadores disse, ontem, que a proposta britânica prejudicaria o mercado único e significaria a "suspensão das suas leis", o que, nas palavras do próprio, "não vai acontecer". 

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, afirmou, numa reunião dos chefes da diplomacia europeus em Talin, Estónia, que a solução "não estava para além do espírito do homem". 

A fronteira entre a Irlanda e o Reino Unido encontra-se atualmente aberta ao trânsito de pessoas, bens e mercadorias, como qualquer fronteira interna da UE. Porém, quando Londres abandonar o bloco económico e político, a fronteira ficará sujeita à regulamentação aduaneira do projeto europeu, tal como acontece com a Turquia, por exemplo. 

Existe o receio de que o estabelecimento de uma fronteira com controlos fronteiriços possa reavivar preocupações de segurança, numa zona marcada por confrontos entre unionistas e independentistas, quase 20 anos depois do Acordo de Sexta-feira Santa, de 1998, que pôs fim ao conflito, e do qual o Reino Unido é parte garante. 

A proposta do governo britânico defendia a não existência de quaisquer infraestruturas físicas, como postos alfandegários, câmaras de vigilância ou tecnologia de reconhecimento de matrículas. A proposta preservava ainda o respeito pelo Acordo de Sexta-feira Santa. 

A fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte é uma das prioridades nas negociações entre o governo britânico e a UE, tal como a chamada “lei do divórcio” e os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido.

As conversações entre os negociadores britânicos e da Comissão Europeia estão a ser caraterizadas por bloqueios e declarações polémicas.