Reino Unido e Europa sem almoços grátis

Tudo apontava para que as negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia não fossem fáceis, agora é o próprio ministro das Finanças da Alemanha que o confirma. Wolfgang Schäuble disse, durante uma conferência que decorreu em Frankfurt, que o Reino Unido tem de ter consciência de que «não haverá almoços grátis». «O…

Tudo apontava para que as negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia não fossem fáceis, agora é o próprio ministro das Finanças da Alemanha que o confirma. Wolfgang Schäuble disse, durante uma conferência que decorreu em Frankfurt, que o Reino Unido tem de ter consciência de que «não haverá almoços grátis».

«O Brexit foi uma decisão que pensamos ser errada de todos os ângulos», afirmou, acrescentando: «Mas os britânicos tomaram-na e agora temos de tentar encontrar soluções que reduzam os danos para ambos os lados ao mínimo possível».

A verdade é que estas declarações surgem apenas alguns dias depois de Londres se ter mostrado disponível para «intensificar» negociações do Brexit.

A esta posição de Wolfgang Schäuble junta-se o facto de Michel Barnier, chefe negociador da União Europeia para o Brexit, defender que é desejável que o ritmo das negociações acelere.

Preço a pagar

Seja como for, o anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) já ditou uma mudança de paradigma quanto aos interesses de vários empresários. Na corrida para receber as empresas que irão deixar Londres está Frankfurt, cada vez mais atrativa pelo facto de ser sede do Banco Central Europeu (BCE).

A conclusão faz parte de uma nova análise da Frankfurt Main Finance, que prevê que a região ganhe mais de 100 mil novos postos de trabalho. Até agora, as transferências de trabalhadores são faladas sobretudo na banca, mas vários analistas acreditam que existirão «efeitos multiplicadores».

Na lista de instituições bancárias que já começaram a desenhar novas estratégias fora do Reino Unido estão o Goldman Sachs, o JP Morgan e ainda o Morgan Stanley.

O novo estudo vem juntar-se a tantos outros, que têm sido feitos de forma a prever as consequências do Brexit. Um dos estudos mais recentes dava conta de que a fatura do Brexit pode facilmente chegar aos 100 mil milhões de euros, um montante que o governo britânico recusa pagar. De acordo com o Financial Times, entre os fatores que poderão contribuir para este valor está a maximização das responsabilidades do Reino Unido, incluindo pagamentos agrícolas a serem realizados pós-Brexit e taxas relativas à própria administração da União Europeia entre 2019 e 2020. Segundo as contas feitas por este jornal, todo este processo pode facilmente ascender a pagamentos em bruto entre os 91 e os 113 mil milhões de euros. Também o think tank Bruegel fez as contas e chegou a valores muito semelhantes: entre os 82 e os 109 mil milhões de euros.

A verdade é que a maioria dos economistas acredita que a economia britânica sairá penalizada com o Brexit.

Entretanto, a seguradora de crédito Solunion veio acrescentar mais números relacionados com todo este processo e determina que a saída do Reino Unido vai trazer, entre 2017 e 2021, perdas de milhares de milhões de euros à zona euro. Em questão está o facto de as economias estarem perto de um cenário que implica a perda de cerca de 24 600 milhões de euros só em exportações de bens, aos quais se somam perdas na ordem dos 5500 em exportações de serviços. De acordo com esta análise, os países mais afetados por um possível acordo comercial limitado deverão ser a Holanda, Irlanda, Bélgica, Alemanha, França e ainda Espanha.

Flexibilidade nas negociações

David Davis, o responsável do governo britânico pela pasta do Brexit, quer flexibilidade na nova ronda de negociações em que continuam a ser discutidos aspetos importantes como os direitos dos cidadãos.

«Ambas as partes devem ser flexíveis e demonstrar vontade para um compromisso para resolver áreas, nas quais não estejamos de acordo. Como disse a UE, o relógio corre e assim nenhuma parte deve arrastar os pés», admitiu uma fonte governamental, citada pela agência noticiosa EFE.

Carta de Theresa May

Para espanto de muitos, Theresa May enviou cartas aos executivos de topo das maiores empresas a operar no Reino Unido. Acima de tudo, é elogiado o plano que tem estado a ser adotado para a saída da União Europeia. De acordo com a Bloomberg, um dos pontos mais importantes prende-se com o facto de dizer que a Great Repeal Bill do Governo [lei especial para transpor o máximo de normas europeias para o direito britânico] marca o início da preparação para o que será a vida depois do Brexit.

«Esta é uma boa altura para as entidades patronais trabalharem com o Governo e com o Parlamento no sentido de fazer do Brexit um êxito e assegurar um futuro brilhante para o nosso país», pode ler-se no documento.

Já no final do mês passado, a primeira-ministra britânica tinha feito saber que um dos pontos mais importantes tem a ver com o facto de o país estar prestes a ficar livre de escolher com quem quer negociar e alterar todos os termos dos acordos comerciais que tinha enquanto parte da União Europeia.

«Há uma série de acordo comerciais que a União Europeia tem com outros países que estamos a analisar, para ver se há possibilidade de serem trazidos para dentro, através de acordos comerciais entre esses países e o Reino Unido», salienta Theresa May.

A prioridade do gabinete da primeira-ministra tem sido tranquilizar os investidores externos através de garantias de que economia – cujo crescimento tem sido lento nos últimos meses – vai crescer depois deste ‘divórcio’.

Seja como for, Theresa May tem estado a preparar o discurso para o final deste mês e a ideia é conseguir acelerar o processo que irá desencadear o Brexit. Na prática o Governo defende que é necessário um diálogo continuado com o intuito de acrescentar urgência à discussão e orientá-la principalmente para o tema do comércio.

De acordo com a Bloomberg, um dos problemas de May é que passou «de uma nova líder com uma liderança esmagadora nas sondagens para uma primeira-ministra enfraquecida com pontos de interrogação quanto ao seu futuro».