Ryanair esconde estar a braços com êxodo de pilotos para a concorrência

De acordo com a associação de profissionais da Irlanda, saíram 700 pilotos este ano

De desculpa em desculpa, a Ryanair tenta fazer face ao polémico cancelamento de vários voos. Inicialmente, a empresa garantia que se tratava de um problema ligado à baixa pontualidade da companhia aérea de baixo custo, mas mais tarde apareceu a história das férias.

O presidente executivo da Ryanair, Michael O’Leary, sublinhou várias vezes que o problema com os pilotos tinha a ver com uma falha no planeamento de férias e garantiu que não faltam trabalhadores, No entanto, só a concorrente Norwegian Airlines já contratou mais de 140 trabalhadores e promete não ficar por aqui.

Ao i, fonte ligada à Ryanair, explica que o problema é complexo. “Isto das férias é tudo mentira e é apenas uma pequena parte de todo o problema. O ano civil na Irlanda termina em março e era por aí que a companhia se guiava. Mas já sabiam desde 2009 que os trabalhadores acabariam por ter de tirar as férias até dezembro. Não ligaram à diretiva europeia e agora não têm mãos a medir”.

 A verdade é que, de acordo com a associação de pilotos irlandesa, só neste último ano financeiro, a transportadora aérea de baixo custo já perdeu 700 pilotos. ”Não há pilotos para voar”, explica a mesma fonte, acrescentando que “a situação vai piorar porque estamos a assistir a um verdadeiro êxodo de pilotos para companhias do Médio Oriente e da China, por exemplo.

A juntar-se à situação dos pilotos, muitos deles sem contrato e ao serviço como prestadores de serviços, estão ainda os assistentes de bordo preparados para saltar para novos voos, assim que surgir uma oportunidade. “As pessoas estão descontentes com a forma como a Ryanair trata os trabalhadores. Ia sempre chegar o dia em que as pessoas se iam cansar de serem mal tratadas”, revela ainda uma outra fonte.

A verdade é que há vários anos que os preços baixos dos bilhetes escondem uma realidade laboral complicada e com poucas condições para muitos dos trabalhadores da companhia. Alguns dos exemplos dados de quem conhece esta realidade de muito perto é o facto de terem de pagar o curso e o uniforme, terem de levar comida para o voo e ainda vender oito raspadinhas por dia sob ameaça de despromoção. Contas que pesam até na hora de pedirem para mudar de base.

“As condições que temos estão muito longe de serem as ideias e ainda há o problema de tudo ser feito à luz da lei irlandesa.

Este é, aliás, um dos motivos que levou a Ryanair a tribunal. A companhia aérea de baixo custo perdeu recentemente no Tribunal de Justiça da União Europeia depois de ter forçado os colaboradores que trabalham em bases fora da Irlanda a verem as suas disputas serem tratadas em tribunais irlandeses.

A ideia da tripulação em questão era que o caso fosse julgado em tribunais belgas, já que a base a que os problemas dizem respeito é o Aeroporto Charleroi, na Bélgica. O caso volta assim para as barras da justiça belga, que dará a decisão final sobre o assunto.

No entanto, esta não é a primeira vez que a companhia enfrenta uma situação deste género. As más condições de trabalho dadas pela transportadora aérea de baixo custo têm estado na ordem do dia e já foram alvo de penalizações em anos anteriores. Em 2013, por exemplo, a companhia foi condenada a pagar uma multa de dez milhões de euros por violar leis laborais. Também aqui as acusações tinham a ver com o facto de registar os trabalhadores empregados em França como trabalhadores irlandeses, impedindo o funcionamento de plenários e acesso a sindicatos no Aeroporto de Marseille-Marignane.